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Foto do escritorCarol Ballan

13º Olhar de Cinema | Crítica | Caminhos Cruzados

Caminhos Cruzados (Suécia, Dinamarca, França, Turquia e Geórgia, 2024)


Título Original: Crossings

Direção: Levan Akin

Roteiro: Levan Akin

Elenco principal: Mzia Arabuli, Lucas Kankava, Denis Dumanli, Nino Karchava e Levan Bochorishvili

Distribuição brasileira: O2 Play

Duração: 106 minutos


Apesar de sueco de nascença, Levan Akin teve muito contato com a sua descendência georgiana ao longo de seus anos formativos. Viajando para o país todos os anos, ele compreendeu sua cultura e linguagem, sendo um ponto de comunicação com o audiovisual do país. Após um sucesso enorme com seu último filme, E Então Nós Dançamos (2019), seu retorno como diretor de longa-metragens era aguardado.


personagens principais de Caminhos Cruzados aconchegados no ferry

A Geórgia é um país pouco conhecido pela maioria dos brasileiros, e é apresentada em tela como um cenário quase inóspito. Um filme obviamente não é o suficiente para criar uma imagem sobre todo um país, mas pelo recorte apresentado, temos uma sociedade conservadora a ponto de que pessoas trans escapam do país para ir à Turquia, país que também não tem nenhuma lei que proteja pessoas LGBTQIAPN+. Assim, quando Achi (Lucas Kankava) encontra em Lia (Mzia Arabuli) a oportunidade de também sair do país, ajudando-a na busca pela sobrinha trans após a morte de sua irmã, ele a convence de levá-lo junto na viagem. A dinâmica entre senhora ranzinza e jovem animado não é algo incomum no cinema, mas a química entre os atores é contagiante. Entre todos os apertos que eles passam juntos e toda a sua descoberta um do outro, acompanhamos a jornada e criamos afeto pelos personagens. Eles, que se mostram em tela tão carentes deste afeto, conseguem criar essa relação até com a plateia.


Mas é acrescentada mais uma pessoa a essa relação, criando um dinâmico trio. Inicialmente em paralelo, é contada a história de Evrim (Deniz Dumanli), uma advogada trans que está tentando receber seu reconhecimento tanto legal quanto social. Seus caminhos acabam se cruzando nessa busca, mas mais do que isso, esses são personagens muito profundos e que lidam com um sentimento de não-pertencimento e que se assemelham nesse sofrimento. Akin escolhe um caminho narrativo que por vezes é até óbvio, mas o faz com delicadeza e cultura local, criando dessa história uma reflexão sobre os nossos desejos.


Percebe-se que todos eles estão famintos, e Istambul é a cidade que pode oferecê-los uma refeição. Literalmente, em muitos casos, mas também em seus ambientes internos. Então, desse encontro, obviamente sai uma compreensão maior sobre todas as diferenças e igualdades que temos com os outros seres humanos. Assim como em Paraísos de Diane, as luzes da cidade grande e as multidões são muitas vezes utilizadas como uma maneira dos personagens se esconderem. Mas isso muda quando eles passam a ser vistos, até com enquadramentos mais fechados e maior destaque.


Assim, a obra consegue contar uma história muito clássica sobre preconceitos com uma roupagem moderna e personagens carismáticos. E histórias clássicas têm esse nome por conta de seu sucesso ao longo do tempo para falar sobre elementos inerentes à nossa condição de humano, sendo bom lembrar que os clichês também podem servir a uma narrativa.


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