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Foto do escritorCarol Ballan

13º Olhar de Cinema | Crítica | Greice

Greice (Brasil e Portugal, 2024)


Título Original: Greice

Direção: Leonardo Mouramateus

Roteiro: Leonardo Mouramateus

Elenco principal: Amandyra, Dipas, Mauro Soares, Felipe de Paula, Luara Raio, Bruna Pessoa e Isabél Zuaa

Distribuição brasileira: Vitrine Filmes

Duração: 110 minutos


Talvez o filme mais divertido do festival, Greice aproveita sua capacidade de fazer humor para criar personagens divergentes e críticas sociais bem colocadas. Assim, o político riso faz com que os espectadores quase não percebam a sutileza de seu roteiro, mas saiam com uma ótima sensação.


greice atende seu futuro namorado

Greice (Amandyra) é uma brasileira que estuda escultura em Portugal. Em meio ao processo de renovar seu visto e de um verão muito quente da Europa, ela conhece Alfonso (Mauro Soares) ao convencê-lo de deixá-la entrar na piscina de sua casa. E assim vai seguindo uma série de desventuras até que uma série de mentiras se torna insustentável e a fazem voltar a Fortaleza fingindo para a mãe ainda estar em Portugal.


Por mais que essa sinopse pareça confusa em um primeiro momento, ela ocorre de maneira completamente casual no filme. A questão é que Greice é uma mentirosa compulsiva, e cria uma nova invenção para lidar com as outras mentiras que precisa sustentar. Mas longe de ser uma femme fatale manipuladora, ela é uma pessoa comum com uma imaginação fértil e uma grande cara de pau. Amandyra consegue trazer uma expressão corporal quase adolescente, ainda que se saiba que a personagem é um pouco mais velha, e isso faz com que o público se apaixone por Greice. Ela se torna quase um arquétipo da mentirosa com um bom coração.


Os personagens que gravitam ao seu redor não são delegados à simples função de coadjuvantes, tendo uma vida própria que cruza com a trajetória celeste de Greice. Isso também é uma conquista do elenco talentoso junto ao diretor e roteirista Leonardo Mouramateus. Cada um tem seus trejeitos que os aproximam de personagens de uma comédia mais clássica, mas ao mesmo tempo todos têm seu toque moderno. Da melhor amiga (que agora é lésbica) ao amante europeu (que é visto pela lente decolonial), cria-se uma maneira de renovar essas imagens.


E esse olhar decolonial é muito importante quando se considera todo o período em que o Brasil foi colonizado por Portugal - e mais ainda quando consideramos que Greice é uma mulher negra. Com personagens que em sua maioria têm uma noção de classe e raça, por mais que se tratem de relações com desproporcionalidades, tudo funciona bem em tela. E a impulsividade da personagem leva a essa instabilidade de nunca se saber onde a narrativa vai parar. 


Tudo isso é complementado por uma fotografia que sabe valorizar seus personagens e espaços físicos, uma montagem que consegue seguir a inquieta mente de Greice e uma direção de arte espetacular, até para fazer com que a garota consiga convencer os outros de suas mentiras.


Combinando o melhor dos dois mundos, é possível dar uma risada sem o peso na consciência de que se está rindo da coisa errada. É um filme que pode juntar grande público e crítica, abrindo espaço para o diretor e o elenco em mais produções.


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