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Foto do escritorCarol Ballan

13º Olhar de Cinema | Crítica | Ivo

Ivo (Alemanha, 2024)


Título Original: Ivo 

Direção: Eva Trobisch

Roteiro: Eva Trobisch

Elenco principal: Minna Wündrich,Pia Hierzegger, Lukas Turtu, Lilli Lacher, Johann Campean e Pierre Siegenthaler

Distribuição brasileira: Atualmente sem distribuidora oficial

Duração: 104 minutos


A morte é, no geral, um assunto que deixa as pessoas desconfortáveis. Mas para Ivo (Minna Wündrich) ela é apenas parte de mais um dia de trabalho, dada a sua profissão como enfermeira de cuidados paliativos. Acompanhamos uma parte de seu dia a dia enquanto ela acompanha diversos pacientes e lida com os próprios dramas.


Minna Wündrich deitada em um sofá

Já em suas primeiras cenas somos apresentados ao seu universo em uma cena em que, ao chegar no centro de cuidados, não encontra um paciente e pergunta casualmente sobre a sua morte, dizendo apenas que não foi avisada. Mas ao invés de torná-la uma personagem embrutecida, Trobisch e Wündrich fazem um ótimo trabalho em criar contraposições que mostram a sua sensibilidade em meio às necessidades do trabalho. Suas cenas apenas refletindo, ou dirigindo e observando os cenários da cidade mostram que ela não está em um estado de anestesia; além disso, alguns dos conflitos com os companheiros de seus pacientes também deixam claro que, apesar de tudo, ela é humana.


Humanidade é inclusive uma palavra definidora da situação. Uma de suas pacientes principais, Sol (Pia Hierzegger), é relativamente jovem para cuidados paliativos, mas percebemos que ela tem uma doença auto degenerativa que está avançando rapidamente. Mais do que isso, é revelado ao público um segredo: Ivo está tendo um caso com o marido de Sol. Questões éticas se criam, e por mais que o filme deixe claro o conflito, ele nunca julga sua protagonista. Ele mantém o foco observacional e cria as diversas facetas de sua vida.


De certa forma, ele questiona sobre quem cuida de cuidadores. Ele lida com o caso extremo da mulher que tem que lidar com doenças e mortes todos os dias, mas poderia facilmente ser transposto para qualquer outra pessoa que também cuida de alguém. Ao longo de toda a obra, na busca de Ivo por relações mais ou menos profundas, ele retoma a temática para nos lembrar que, em toda relação de cuidado, as duas pessoas que estão ali são humanas.


Um dos elementos recorrentes na narrativa para trazer esse lembrete são os elementos da natureza. Sejam as pombas na janela de Sol, o veado na mata ou os insetos que estão sempre presentes, percebemos que Ivo está sempre reparando nesses elementos. Para além das simbologias de cada um dos animais, há também o olhar da mulher que simplesmente consegue deixar de lado a complexidade de sua vida para simplesmente observar.


E se estamos observando Ivo, também estamos aprendendo com a sua maneira de lidar com alguns dos momentos mais difíceis da vida. O humor que permeia o filme, sem nunca exagerar e chegar no mau gosto, é essencial para ela assim como para os espectadores. É também um lembrete que algum equilíbrio é necessário na vida.


Terminando com uma cena exatamente igual a que começa, de árvores sendo passadas na rodovia, o filme novamente nos lembra da circularidade da vida, da necessidade de pequenos ciclos de transformação. Em uma nota agridoce, terminamos a sessão, mas sabemos que em momentos complexos, a arte será capaz de nos inspirar a seguir em frente.


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