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Foto do escritorCarol Ballan

13º Olhar de Cinema | Crítica | O Sol das Mariposas

O Sol das Mariposas (Brasil, 2024)


Aviso: esse filme possui fortes alertas de gatilho para abuso sexual e lgbtfobia


Outro Aviso: essa crítica contém spoilers


Título Original: O Sol das Mariposas

Direção: Fábio Allon

Roteiro: Cláudia Lopes Borio e Fábio Allon

Elenco principal: Anídria Stadler, Camila Jorge e Nautilio Portela

Distribuição brasileira: Atualmente sem distribuidora oficial

Duração: 105 minutos


O único longa-metragem paranaense a figurar na competição nacional do festival coloca o Norte do Paraná como locação para um drama histórico que mergulha em uma lgbtqfobia que parece gostar de ver mulheres sofrendo em tela.


família do filme o sol das mariposas janta

Marta (Anídria Stadler) é uma mulher em uma situação em comum. No meio dos anos 1970, se vê responsável por cuidar do sítio que o marido abandonou. Isso ocorre em um momento particularmente inoportuno para a economia rural, quando a produção excessiva de café se mistura a uma grande crise por conta das geadas que queimaram as plantações. Essa solidão de Marta é o seu elemento determinante, ainda que no começo todos os funcionários da fazenda se ofereçam para ajudá-la.


É apenas no decorrer do filme que vamos percebendo o florescer de uma relação com Juliana (Camila Jorge). O que inicialmente parece uma amizade forte por conta das situações duras de vida no sítio aos poucos se torna um romance. Mas o filme, tentando ter um realismo, mostra um momento de extrema lesbofobia, com o comportamento de todos à sua volta mudando quando descobrem sua relação.


O que poderia ser uma narrativa simples e de época ganha novos contornos quanto mais a narrativa se desenvolve. Disso, passamos a uma cena dolorosa e desnecessariamente gráfica de um estupro marital e fortes agressões até que se decida lutar de volta. E é justamente na cena final, de lutar de volta, que se dá a desgraça do filme. Ele está tentando passar uma mensagem de luta e de denúncia de algo que acontecia e continua acontecendo - conforme a própria equipe afirmou na coletiva de imprensa. Mas não percebe que perpetuando essas imagens de mulheres machucadas e frágeis, que precisam chegar ao limite do abuso para tomar providências, ele se faz um desfavor.


Além de questões temáticas, o filme parece perder o controle de sua linguagem. Ele tenta trazer a passagem de tempo diferenciada no meio rural através de longos planos que se dissolvem nas próximas cenas. Mas ao fazê-lo, ele perde o público por conta do ritmo excessivamente lento em sua primeira metade, e excessivamente violento na segunda. O que poderia evocar os questionamentos metafísicos da humanidade revela apenas um plano bonito que fica em tela por quase um minuto, sem que nenhum raciocínio seja proposto antes ou depois dele.


É interessante que na entrevista coletiva do filme a equipe se mostrou coesa em relação à cena de estupro, pois a decisão de gravá-la foi realizada coletivamente. Também foi afirmado que este foi um roteiro que passou por muitas versões e adaptações, então é possível que a mensagem tenha se perdido em algum momento do meio.


Uma pena que o único filme paranaense na competitiva tenha um discurso tão contrário ao que está presente em todo o resto da curadoria. E não apenas provocador, ele desenvolva essa narrativa que propaga tudo aquilo pelo qual ele parece lutar contra.


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