top of page
Foto do escritorCarol Ballan

13º Olhar de Cinema | Crítica | Praia Formosa

Praia Formosa (Brasil e Portugal, 2024)

Título Original: Praia Formosa

Direção: Juliana de Simone

Roteiro: Aline Portugal, Juliana de Simone e Mariana Luiza

Elenco principal: Lucília Raimundo, Samira Carvalho, Maria D'Aires, Mãe Celina de Xangô

Distribuição brasileira: Olhar Distribuição

Duração: 93 minutos


A utilização de elementos fantásticos pode ser um caminho artístico muito bom para lidar com sentimentos que persistem ao longo de muito tempo. É justamente o que Juliana de Simone faz brilhantemente em Praia Formosa, no qual o apagamento da memória das pessoas escravizadas é tratado de maneira sensível e não por isso menos impactante.


lucília raimundo olhando para o mar

Muanza (Lucília Raimundo) é uma mulher escravizada trazida do Reino do Congo e que fez amizade com Kieza (Samira Carvalho) durante a travessia do oceano. Já no Brasil, ela deseja reencontrar a amiga, que teve um destino diferente do seu. Isso é misturado com um deslocamento temporal de Muanza entre o Rio de Janeiro do passado e do presente, criando estranhamento em todas as cenas. Entre a casa de seus antigos escravizadores em ruínas e ter que encontrar um caminho antigo em meio a uma cidade que mudou, ancestralidade e amor são assuntos abordados a cada novo movimento.


O que já é uma história forte por si só é potencializada pela linguagem que Juliana de Simone escolhe para seu longa. Misturando cenas de ficção com algumas leituras de documentos antigos reais, e lidando com as escavações recentes do Rio de Janeiro, ela traz à memória um assunto que poderia simplesmente ser deixado de lado. Lidando com as expressões de dança, cultura e religião, ela ilumina algo que poderia ser esquecido. Ela lida com o problema e com as suas consequências ao mesmo tempo, apontando o caminho da busca pelo conhecimento como essencial para que as pessoas encontrem o seu lugar no mundo.


A atuação potente de Lucília Raimundo é um ponto importantíssimo para o sucesso do longa. Há uma cena em particular, de Catarina (Maria d’Alves) a chamando para servir o café, que é praticamente repetida, mudando apenas a reação de Muanza. Ela consegue mostrar uma mudança de postura clara e sem passar do ponto, de maneira que a plateia fica muito feliz por ela. Sua conversa com a Mãe Celina de Xangô é outro momento de importância e beleza para a obra, com a mistura entre a atuação e o relato sobre uma realidade vivida sendo essenciais para a construção narrativa de influência do passado no presente.


Um filme que idealmente seria revisto para a escrita de uma crítica,  A Praia Formosa consegue trazer uma mensagem política extremamente humanizada através de mecanismos do cinema de gênero. Ou seja, o cinema de gênero mais uma vez mostra sua potência política, e permite que a obra seja tanto sensorial quanto acadêmica.


Comments


bottom of page