Tijolo por Tijolo (Brasil, 2024)
Título Original: Tijolo por Tijolo
Direção: Victoria Alvarez e Quentin Delaroche
Roteiro: Victoria Alvarez e Quentin Delaroche
Elenco principal: Cris Martins, Albert Ventura e Caique de Souza Ventura
Distribuição brasileira: Atualmente sem distribuidora oficial
Duração: 102 minutos
Victoria Alvarez e Quentin Delaroche têm uma ideia simples, mas de execução bastante complicada, para seu documentário longa-metragem. Como explicado na coletiva de imprensa, iriam começar outro projeto, sobre a convivência em momento político complexo, quando a pandemia se iniciou e impossibilitou qualquer passo nesse sentido. No entanto, com o passar do tempo, melhoria das condições de saúde pública e um contato profundo com Cris Martins, o foco foi completamente alterado para um estudo dessa pessoa interessantíssima e sua família.
Já nos créditos iniciais, montados de maneira muito dinâmica com fotos de família de forma a deixar os espectadores a par dos personagens que conhecerão mais profundamente, compreendemos os grandes dilemas do filme. O primeiro é a necessidade de reconstrução da habitação, dado que a casa em que a família mora teve que ser demolida por risco de desabamento. O segundo, que neste momento aparece de maneira mais sutil mas será muito bem desenvolvido, é a gravidez de Cris. O casal está em uma quarta gestação, ainda em pandemia e em uma recessão econômica duríssima.
O que os diretores se propõem a fazer é um documentário quase observacional para tentar dar dimensão às camadas dessa mulher e outros membros da família. Com um longo período de tempo tanto para conhecê-los como para captar imagens, fica claro na coletiva de imprensa que foi criado um grande vínculo afetivo. Ele por vezes até aparece em tela, mas é bem claro na realidade. Percebe-se também um trabalho humanizado. Cris se mostra ciente de que seria retratada em tela como uma personagem com camadas, e não uma heroína sem defeitos. Se coloca também a par da importância do filme em diversos aspectos, como mostrar uma afetividade familiar, uma gestação e maternidade reais e um processo de reconstrução do lar.
Outro fator que é trazido ao público de maneira clara é o quanto a internet é importante para a família. Tanto por uma questão de criação de renda como uma forma de conectividade e novos afetos, ela não é encarada como algo alienador. Ao contrário do que poderia acontecer, criando um vilão através dos aplicativos de vídeos, o elemento é apresentado da mesma maneira que Cris os vê, como um elemento de criar conexões e ganhar um dinheiro a partir de sua personalidade divertida.
Ainda que, obviamente, seja impossível criar o tipo de neutralidade que os diretores inicialmente querem vender, o recorte realizado é muito eficiente. Tanto pelo período difícil para a maioria dos brasileiros e pior ainda para a população recifense, quanto pela abordagem que mistura formatos e estilos para criar uma colcha de retalhos do que é a vida nos anos 2020. Conhecemos uma família de maneira humanizada e completa, e facilmente nos apaixonamos por ela.
Esse olhar sensível é ainda mais claro nos créditos finais, que apresentam todos os membros da família em um momento de diversão. A pobreza de espírito, afinal, pode ser muito mais triste do que uma pobreza material.
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