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Foto do escritorCarol Ballan

Crimes do passado, reflexo no presente


Um pensamento que tem persistido na minha cabeça nos últimos dias ao assistir em sequência aos filmes do Oscar é o quanto os indicados desse ano, e consequentemente os filmes que foram produzidos e lançados nos Estados Unidos no período, usaram como referências à história da militância do país. Seja em um debate de ideias sobre negritude e combate ao racismo presente em Uma Noite em Miami ou a sobrevivência de uma cantora negra em um universo comandado pelos branco em A Voz Suprema do Blues, o assunto esteve em pauta em muitos dos indicados, algo que não foi diferente nessa obra, que aborda um momento histórico dos EUA através de diversos grupos de militâncias diferentes, apesar de inclusos no mesmo espectro político. Dando ainda mais um passo, vem o questionamento: dado o momento de embates raciais e políticos, com temáticas como trumpismo, Black Lives Matter e MeToo estando cada vez mais presentes na mídia, seria esse um momento de reflexão através da arte ao buscar ter uma compreensão histórica, analisando em como dar seus próximos passos?

Avançando para o filme em questão, Os Sete de Chicago é um filme muito correto. Claro, não perfeitamente correto em termos históricos, senão ele seria um documentário, o que não é a proposta - e inclusive caso a história político-social dos EUA não seja o seu forte esse link do site Farofa Geek aqui tem um resumo histórico bem interessante das manifestações. Mas o filme é correto no sentido de ter uma estrutura narrativa extremamente linear e clara, fotografia e edição que o favorecem a todos os momentos, boas atuações e um bom roteiro gerando uma boa produção, baseado em uma interessante, apesar de pesadíssima, história real.

E este é um caso no qual o absurdo da vida real é realmente o que faz com que a ficção funcione, mesmo que com os floreios necessários para que o filme se desenvolva melhor. Ao buscar mais sobre o ocorrido e descobrir que as maiores atrocidades cometidas como o amordaçamento de Bobby Seale são reais, é inevitável refletir o quanto a história pode ser mais assustadora que a ficção. E neste sentido, apesar de ser um roteiro extremamente correto com todos os pontos de virada e altos e baixos feitos para criar empatia, a grande revelação no final ainda é uma história necessária, dado que a violência policial (principalmente contra a população negra) permanece um problema alarmante no mundo.

A direção do filme é o fator mais interessante para tornar uma história de tribunal algo interessante para o público totalmente leigo, fazendo uso da criação de empatia pelos personagens em cena. O fato de haver maior destaque a alguns deles, mostrando um pouco de suas histórias pregressas e o acompanhamento delas durante o julgamento mantém o interesse, mesmo que às vezes não se compreenda exatamente o movimento de corte daquele momento da trama. A maior parte do diálogo entre manifestantes é um embate quase violento sobre quais seriam as melhores maneiras de chegar ao seu objetivo comum, algo que também ocorre em Uma Noite em Miami, e que aqui também é um ponto altíssimo. Isso, somado às atuações de atores já consagrados, realiza um trabalho extremamente competente resultando em um filme satisfatório de assistir.





A maior questão da obra é que ele acaba um tanto preso a esses moldes, não abordando questões nem técnicas nem artísticas que inovem um pouco a maneira de contar histórias, algo que espectadores cinéfilos podem considerar um pouco enfadonho, apesar da boa história real na qual ele se baseia. É algo para reflexão: como filmes como Os Sete de Chicago dentre outros, mais conservadores, acabam com inúmeras indicações, enquanto ao mesmo tempo produções como Destacamento Blood, que também trazem uma reflexão sobre a Guerra do Vietnã, mas de maneira muito mais disruptiva e agressiva, são totalmente ignorados pela premiação? A mesma lógica vale para o maior indicado da noite, Mank, um filme bem produzido, mas que dialoga muito pouco com discussões de temas atuais. Me questiono se após as vitórias de Parasita no ano passado, a Academia decidiu colocar um pé no freio em suas indicações, tentando valorizar as produções estadunidenses, e que não trouxessem uma postura mais combativa.

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