A Flower of Mine (Itália e Bélgica, 2024)
Título Original: Fiore Mio
Direção: Paolo Cognetti
Roteiro: Paolo Cognetti
Elenco principal: Paolo Cognetti, Remigio Vicquery, Arturo Squinobal, Marta Squinobal, Eete Tamang, Corine Favre e Mia Tessarolo
Duração: 80 minutos
É clara a paixão de Paolo Cognetti pelos alpes italianos desde seu livro que depois virou um aclamado longa-metragem As Oito Montanhas (2022). Mas para este longa-metragem, ele dá um passo além e passa para a não-ficção, falando sobre a vida nas montanhas e abordando seus personagens existentes na vida real.
As referidas montanhas são, é claro, deslumbrantes, ainda mais para o espectador tropical que não vê neve em nenhuma época do ano. Perceber o passar das estações de maneira extremamente marcada e perceber como isso é importante para sociedades que precisam conviver com as grandes mudanças climáticas já é uma observação da realidade diferente da nossa. Mas é frustrante perceber como o longa-metragem se aproxima de uma tentativa de neutralidade perante os apresentados e não consegue se desenvolver adequadamente.
Trabalhar com o documentário pode ser mais difícil que a ficção, ainda mais quando se lida com pessoas presentes na sua vida. Além da pressão por conseguir criar uma boa linha narrativa, há a questão de como as pessoas irão se comportar na frente da câmera, e então como editar este material para criar um debate. Claro que existem centenas de tipos de documentários, mas certamente se pretende criar ou apontar a luz para alguma situação específica. No longa, existe a clara situação de pessoas que vivem ou passam por uma montanha extremamente isolada, mas ele não consegue trazer uma emoção ou importância disso com os entrevistados. Há pessoas/personagens bastante interessantes, mas a superficialidade do que é mostrado faz com que nunca haja uma conexão mais profunda com os representados.
Essa delicadeza excessiva também aparece no pouco comentário que é feito em relação às possibilidades de uma mudança climática que afete a região. Até existe um esboço disso ao falar sobre a falta de água em sua casa e a busca por sua origem, mas parece transpassar o documentário uma ideia resignada de que a natureza toma seu caminho independente da humanidade. Não que haja discordância sobre isso, mas ao afirmá-lo, acaba se minimizando o dano que realizamos e que poderíamos repensar com práticas mais sustentáveis como sociedade. Não é à toa que cada vez mais se discute sobre refugiados climáticos, e é difícil falar de clima sem acabar fazendo uma crítica ao consumismo capitalista, mas esse filme tenta escorregar deste caminho. E ao invés de apresentar uma argumentação aprofundada, apenas pincela o assunto, causando tamanha estranheza no espectador.
Assim, o filme não consegue revelar seus pensamentos, como se houvesse uma necessidade do documentário em ser isento com seus representados. O autor, que outrora foi tão capaz de criar personagens incríveis em seus livros, acaba perdido em sua comunicação com seres humanos através do mecanismo do cinema, a câmera.
Pelo seu final e pela forma que é mostrado o respeito de todos os entrevistados pelas montanhas, percebe-se que o filme funciona como uma carta pessoal de amor por aquele local e pelas pessoas que ali ocupam. Só que para realizar um diálogo com o público, seria necessário um melhor recorte ou aprofundamento.
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