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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | 77º Festival de Locarno | Bang Bang

Bang Bang (EUA, 2024)


Título Original: Bang Bang

Direção: Vincent Grashaw

Roteiro: Will Janowitz

Elenco principal: Tim Blake Nelson, Glenn Plummer, Andrew Liner, Kevin Corrigan, Nina Arianda, Erica Gimpel e Daniella Pineda

Duração: 103 minutos


Observar a página de trabalhos em que Tim Blake Nelson dá a mesma sensação de observar uma enciclopédia. Trabalhando no audiovisual desde 1991, são muitos os papeis e premiações. Ainda assim, não é exagero dizer que este é um dos melhores desempenhos de sua carreira. Bernard “Bang Bang” Rozyski é em muitas camadas um clichê - mas executado de maneira tão realista que não gera nenhuma dúvida sobre sua relevância.


tim blake nelson interpreta o anti herói bang bang

Existem dois estereótipos principais claros ao longo de todo o filme. O primeiro seria do idoso rabugento, amargurado com a vida naquela cidade, com a modernidade e tudo mais que o lembre não estar mais em seus dias de glória. O segundo, que parece estar em alta no cinema, é o do lutador derrotado pela vida. Desde O Lutador (2008) ao mais recente Garra de Ferro (2024), parece que a geração influenciada por Rocky Balboa passou por uma decepção ao perceber que parte do sucesso era apenas a magia das telas colocada em ação. Ainda assim, tanto por caber bem no estereótipo como por saber os momentos de afastá-lo, como as cenas mais carinhosas com a família, há uma profundidade cativante e que impede que o espectador queira até piscar. Neste sentido, há um momento específico no qual ele reage a uma poesia que funciona perfeitamente como síntese do seu ser: um homem extremamente machucado, mas que ainda tem um coração.


Por conseguinte, o personagem de seu neto é a contrapartida perfeita para reiniciar suas paixões. Justin (Andrew Liner) é um jovem relativamente moldável e claramente com problemas de comportamento, então funciona como uma nova chance deste homem com a vida. Pouco conhecemos sobre a sua história, e isso funciona a favor do filme justamente porque observamos o ponto de vista de Bang Bang, para quem o que realmente importa é uma possível aptidão com a luta.


Isso é reforçado por todas as escolhas estéticas, de fotografia e direção de arte, que homenageiam os anos 1980 com um toque de modernidade, mas sem nunca utilizar algo muito inventivo. É um cinema que trata a câmera quase como algo invisível, tentando e conseguindo fazer com que os espectadores acreditem na magia das telas até o último minuto. Por mais que não seja muito inventivo, saber realizar o simples bem feito acaba sendo um ótimo elemento, dando o suporte para que não desistamos de Bang Bang em suas primeiras ações controversas.

O mesmo funciona para todos os papeis que estão ao seu redor: ninguém importa tanto para o homem tão autocentrado, acabando que nem há espaço em tela para mais ninguém brilhar. No entanto, todos estão lá como suporte e mantém o ritmo em tela funcionando.


Assim, o diretor é capcioso em compreender que o ponto alto da obra será o personagem principal, faz uma escalação sensacional para ele e gera toda uma narrativa que se encerra de uma maneira menos esperada e que fará com que a memória da obra permaneça com seus espectadores. Gosto de ressaltar que clichês existem na ficção porque eles existem na vida real. Evitar com que eles sejam insuportáveis na ficção é saber lidar com eles e saber a hora de quebrá-los - e isso Grashaw faz maravilhosamente bem. 


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