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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | 77º Festival de Locarno | Collective Monologue

Collective Monologue (Argentina, 2024)


Título Original: Monólogo Colectivo

Direção: Jessica Sarah Rinland

Roteiro: Jessica Sarah Rinland

Elenco principal: Alicia Delgado, Macarena Santa María Lloydi, María José Micale, Franco Elio Itri e Juanita

Duração: 104 minutos


Sem saber o que seria um monólogo coletivo, a ideia de assistir um filme que lida com o manejo de animais do antigo zoológico de Palermo, em Buenos Aires, foi uma curiosidade natural. Para além das críticas de cinema, sou vegetariana há 12 anos, extremamente interessada pelas causas de ética animal e protetora de gatos resgatados (o nome do site não é à toa). Já me era um fato conhecido que o espaço fora fechado há alguns anos por conta de muitos protestos motivados pelo uso de sedativos em grandes felinos para que turistas pudessem tirar fotos. Saber o que aconteceu com os animais após o fechamento naturalmente me traria curiosidade.


cuidadora e macaco em cena de collective monologue

A obra que a diretora Jessica Sarah Rinland cria supera as expectativas em relação a satisfazer essa curiosidade. Ela consegue alcançar um espaço que ao invés de simplesmente se colocar contra ou a favor de zoológicos, como inicialmente poderia se pensar pela temática, se preocupa em discutir a relação dos humanos com os animais, tanto em questão de nossos interesses quanto de nossas responsabilidades. Ao invés de apontar um dedo, ela aponta a sua câmera extremamente observacional, e nos permite tirar conclusões mais a partir do que é visto do que por conta de uma militância direta.


A diretora é bastante consciente do espaço em que está gravando, tanto ao trazer parte de sua história para as telas quanto de compreender os bens e males que seus fundadores causaram. Desde a arquitetura inicial até os planos de como o espaço irá ficar, tudo é colocado em tela mesmo que no plano de fundo. Isso é fruto de estudos por parte dela e da equipe que permanece no local, mas trazê-lo para as telas contribui com essa indagação: será que podemos colocar o espaço como totalmente bom ou totalmente mal?


O que é mais precioso no longa-metragem é o trabalho de paciência e edição de acontecimentos ao longo do tempo. O carinho de Maca, a cuidadora principal retratada, pelos animais é indubitável. Já nas primeiras cenas, dela com a macaca Juanita, percebe-se que ali existe uma fusão do humano de volta à natureza. Mas, ao observar melhor e perceber que ambas estão dentro de um enclausuramento, volta-se à realidade do momento excepcional ao que é considerado humanidade.


Esse movimento se repete diversas vezes, e aos poucos somos levados para dentro deste ambiente, criando pequenos vínculos afetivos com todos - humanos e animais - representados. Assim, a própria obra brinca com a percepção de que é necessário se desumanizar para deixar de perceber a humanidade como parte da natureza. O uso do mecanismo cinematográfico é perfeito, sendo o elemento que permite esse vínculo com uma realidade extremamente específica.


Mais do que gritar, o filme sussurra suavemente a sua mensagem; ao invés de denunciar, ele observa tentando entender todos os elementos daquela equação. Para os espectadores, basta aproveitar a viagem e chegar às suas conclusões sobre todo o processo. Mas com isso, ele permanece na mente por um bom tempo, criando novas interpretações à medida em que se digere o que foi assistido.


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