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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | 77º Festival de Locarno | Eami

Eami (Paraguai, EUA, Alemanha, Países Baixos, Argentina, França e México, 2022)


Título Original: Eami

Direção: Paz Encina

Roteiro: Paz Encina

Elenco principal: Anel Picanerai, Curia Chiquejno Etacoro, Ducobaide Chiquenoi, Basui Picanerai Etacore e Lucas Etacori

Duração: 83 minutos


Como já observado em críticas de outros filmes indígenas da América do Sul, assistir a um filme que trata dos nossos povos nativos é sempre uma experiência sensorial diferente, pois as suas relações com a palavra e com os ciclos da vida e da natureza são muito mais profundos do que o ocidentalizado. Desde a primeira cena de Eami, que é muito impactante, já percebemos que este será um filme fortemente ancorado nessa tradição originária.


cena na praia do longa-metragem eami

A primeira cena já é muito significativa do que será visto na obra a seguir. Em um plano completamente estático, aberto e voltado para o chão com alguns ovos, a única mudança na tela é a iluminação. O que conta mais da história nesse momento são justamente as palavras, que contam uma história de criação, perseguição e destruição. Junto a isso, é feito um importante trabalho de edição de som que consegue nos situar sobre algumas das metáforas ditas, como a variação entre os sons da natureza com aqueles que são causados pelo homem.


O que vai se seguir é a história que, infelizmente, latinoamericanos já conhecem bem, pois ocorre desde 1500 e parece não ter fim. Mas é a delicadeza utilizada para recontar isso que realmente importa para fazer com que este filme se destaque. 


Em entrevistas, Paz Encina agradece Jordana Berg, montadora brasileira conhecida por seu trabalho com Eduardo Coutinho. Analisando a obra, é simples compreender os motivos, dado que a narrativa parece se desenvolver em um loop temporal completamente indefinido e que poderia, inclusive, se passar em diversos locais se não fossem as especificidades culturais que são bem colocadas. Quando pensamos em como um filme é realizado, ainda mais um como esse que mistura documentário e ficção, temos a etapa do roteiro, a produção e a pós-produção, onde se encaixa a montagem. O material bruto que deve ter sido captado, entre as filmagens da ficção e as entrevistas que ouvimos ao longo da obra, parece amedrontador. Mas felizmente há uma desarmonia necessária entre som e imagem que cria o equilíbrio perfeito para que o público permaneça hipnotizado por imagens muito plásticas enquanto ouve histórias muito tristes.


Assim, a obra se apoia nessas contraposições que sempre elevam a narrativa e consegue um deslumbramento de quem assiste. Ela carrega um luto coletivo extremamente profundo, e entende que precisa mostrar parte do que é esse luto, e quais são essas culturas que aos poucos desaparecem do mundo. De certa forma, ela utiliza o fazer cinematográfico como uma forma de conservação de memória de forma consciente, o que é particularmente importante em casos como esse.


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