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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | 77º Festival de Locarno | Luce

Luce (Tunísia, França, Bélgica e Polônia, 2024)


Título Original: Luce

Direção: Luca Bellino e Silvia Luzi

Roteiro: Luca Bellino e Silvia Luzi

Elenco principal: Marianna Fontana, Luigi Bignoni e Tomasso Ragno

Duração: 93 minutos


O vazio existencial é assunto de terapia de muitas pessoas, assim como é tema de diversos filmes. Aqui, com uma camada de modernidade, os cineastas mostram como a jovem não nomeada (Marianna Fontana) tenta preencher a sua existência a partir de elementos externos.


atriz marianna fontana em cena do filme luce

Rapidamente compreendemos que ela tem uma vida solitária e ditada pelos horários do trabalho. A situação muda um pouco quando ela conhece um fotógrafo de casamento (Luigi Bignoni) que possui um drone, e ela pede ajuda para levar um celular para dentro de um lugar murado. A partir de então, começa a receber ligações de um homem que acredita-se ser seu pai (Tomaso Rogno) e que passa a lhe acompanhar no cotidiano através de ligações telefônicas.


Diferente de outras obras que indicam esse estado de alienação, a mulher tem contato com outras pessoas, mesmo sendo pouco comunicativa. Existe uma família, amigos e até um gato. Mas, como comentado anteriormente, este é um vazio existencial, que independe das pessoas que estão na sua vida. Então, com um grande controle dos aparatos cinematográficos, é justamente isso que a dupla de diretores irá captar.


A principal parte de seu controle formal é o uso dos close-ups no rosto da personagem principal pela maior parte do longa-metragem. Vemos tudo o que acontece de maneira sempre relativa a ela, percebemos qualquer minúscula mudança de expressão, entendemos o seu tédio e a sua alegria. Assim, quando a voz misteriosa passa a falar pelo telefone, também percebemos como ela passa a lhe dar outra perspectiva sobre as possibilidades de sua vida, assim como certo relaxamento de sua tensão. O fato de nunca vermos quem é o dono desta voz também é um elemento muito importante, porque cria-se uma tensão de não compreender as suas intenções - a obra inclusive poderia se tornar um suspense muito rapidamente. Nunca temos uma noção da situação completa, então nos tornamos tão alienados quanto a própria personagem. 


Ainda assim, ficamos sem algumas peças do quebra-cabeça proposto que parecem essenciais para quem assiste. A identidade das pessoas, mantida em aberto para criar uma sensação de generalidade, acaba dificultando a aproximação da personagem principal, por melhor que seja a atuação de Marianna Fontana. Tenta-se criar mais algumas linhas narrativas, como a relação com sua família e com o fotógrafo, mas o fato da mulher se alienar propositalmente por vezes a torna distante de outros sentimentos humanos comuns.


Com a escolha dos diretores em se afastar de qualquer informação mais definitiva, a obra tem uma ressonância gigantesca com pessoas que compreendem o vazio captado e essa necessidade de escape para uma alternativa, mesmo que não realista. Ao mesmo tempo, ela torna o filme bastante efêmero, destacando a performance da atriz mais do que o próprio filme, que tenta se colocar como algo invisível para o espectador. É uma escolha ousada dos diretores, uma vez que limita a sua distribuição fora do circuito de festivais, mas deixa sua marca de autoria presente para quem observa com atenção. E, para os espectadores, permanece o mistério dos acontecimentos e a reflexão sobre nossos próprios comportamentos.


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