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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | 77º Festival de Locarno | Salve María

Salve María (Espanha, 2024)


Título Original: Salve María

Direção: Mar Coll

Roteiro: Mar Coll e Valentina Viso baseadas no livro de  Katixa Aguirre

Elenco principal: Giannina Fruttero, Oriol Pla, Laura Weissmahr, Magali Heu e Juliane Maes

Duração: 111 minutos


O século XXI discute uma nova visão sobre a maternidade, tanto sobre os caminhos possíveis para lidar com a chegada de uma criança de maneira mais equilibrada quanto sobre a desobrigação de todas as mulheres se verem no papel de progenitoras. Ainda que essas não sejam ideias exatamente novas, são discutidas com um viés cada vez mais voltado na opinião de mulheres sobre as suas próprias vidas. É o que acontece com dois dos longa-metragens apresentados em Locarno, Salve María e Os Paraísos de Diane (2024). Apesar de cada um utilizar uma linguagem e técnica completamente distinta do outro, a discussão sobre a maternidade compulsória é a mesma.


mar coll em cena do longa-metragem salve maria

Nesta obra, María (Laura Weissmahr) é uma escritora que recentemente teve um filho e tem dificuldades em se adaptar à nova rotina com a criança. Junto a isso, ocorre um caso de infanticídio de gêmeos em sua cidade, e ela começa a se tornar obcecada com o caso e investigá-lo para compreender qual o limite que foi ultrapassado por essa mãe para escrever um novo livro. O que poderia ser um simples drama passa para um forte suspense que brinca com o desespero do espectador, sabendo o peso que ações com bebês têm para a sociedade.


Mar Coll demonstra um ótimo conhecimento das convenções de gênero e de como utilizá-las para maximizar a experiência cinematográfica. Da trilha sonora que inicialmente parece exagerada, mas que ganha sentido conforme o andamento da obra, até o uso da fotografia para esconder e mostrar o que ela deseja para o público, todos os momentos da obra são pensados também para gerar incômodos no espectador. Mais do que isso, o filme trabalha com elementos que parecem óbvios a quem observa, como o refluxo do bebê, a dificuldade de conexão da mãe com as palavras e até a alteração do ambiente familiar antes do casal e agora ocupado pela criança, mostrando que situações que parecem banais para quem observa podem ser sentidas de maneira muito intensa por quem vive.


A partir do momento em que o filme passa a seguir o caminho do suspense de maneira mais intensa, com Maria efetivamente seguindo Alice (Magali Heu) para continuar escrevendo seu livro, a aflição gerada nos espectadores é tanta que agimos exatamente como o esperado pela diretora, ignorando a mãe e pensando no bebê. Utilizando esse controle formal para depois gerar a reflexão, a diretora catalã consegue romper a barreira das expectativas e gerar uma personagem compreensível, fazendo com que a identificação nos faça refletir sobre o tratamento dado às mães. 


De maneira diferente de Os Paraísos de Diane, que precisa fazer com que a protagonista atravesse a linha do aceitável para encontrar a sua paz, aqui com um cenário muito semelhante consegue se criar uma narrativa mais contida que trata o chamado instinto materno de uma maneira menos radical, mas mais humanizada. É interessante que os dois filmes estejam sendo exibidos no mesmo festival, permitindo ao espectador duas abordagens diferenciadas sobre um mesmo assunto bastante atual.


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