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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | A Garota da Vez

A Garota da Vez (EUA, 2023)


Título Original: Woman of the Hour

Direção: Anna Kendrick

Roteiro: Ian McDonald

Elenco principal: Anna Kendrick, Daniel Zovatto, Tony Hale, Nicolette Robinson, Pete Holmes, Autumn Best, Kathryn Gallagher e Kelley Jakle

Duração: 95 minutos 

Distribuição brasileira: Diamond Films


Não existe nenhuma dúvida de que o true crime está em uma fase de alta. De podcasts a séries, filmes a livros, ele está muito presente na cultura popular atual. Então, o roteiro de Ian McDonald vem em um bom momento por trazer algo que envolve uma história real, mas que usa bem o fato de ser ficcionalizado para criar uma experiência interessante para os espectadores. Assim, entendemos a estranha história de Rodney Alcala, que é relacionado legalmente ao assassinato de pelo menos oito mulheres e possivelmente autor de muitos outros, e que em meio a um jogo de gato e rato com a polícia chegou a participar de um programa de namoro na televisão mesmo já tendo sido acusado de alguns crimes.


anna kendrick em cena de A Garota da Vez

Isso porque na medida em que o assunto se populariza, também ocorre uma maior problematização de peculiaridades dele. Entre a violência muito gráfica à espetacularização e até glamourização de criminosos, também existe um estímulo a um consumo mais consciente desses conteúdos. E nesse ponto a direção de Anna Kendrick consegue assumir um caminho bastante equilibrado entre dar o peso necessário aos assassinatos do serial killer sem criar cenas ultra-violentas e que tirariam o foco mais voltado ao thriller do filme.


A obra ficcional inspirada no crime real utiliza o formato de temporalidade não-linear para nos mostrar parte dos assassinatos cometidos pelo homem mesclados com a sua participação no The Dating Game, dando respostas a perguntas feitas por uma garota que tentava iniciar a sua carreira como atriz em Los Angeles. Então, também mostrando parte do modus operandi do assassino enquanto conscientemente evita a fetichização das cenas de sofrimento e morte, o filme trata do cruzamento entre essas duas vidas no programa, considerando também seu passado.


Esse evitar de mostrar a violência excessiva funciona bem para o filme tanto em relação ao seu discurso quanto à estética. Por um lado, percebe-se que existe um forte trabalho em mostrar a humanidade de todas as suas vítimas, de conversas mais casuais até dando-lhes nomes e localizações. Nenhuma delas é tratada com condescendência, tendo todas elas a sua própria história e desejos, mesmo que eles apareçam muito brevemente em tela. Assim, não mostrar com detalhe as violentas agressões que elas receberam conversa diretamente com essa ideia. E o modo que isso é feito, com a câmera desviando do ato de violência em si, é bastante engenhoso. Assim, não se nega o horror do que aconteceu, mas ao mesmo tempo se respeitam as vítimas.


O filme é ajudado tanto por essa fotografia que capta o espírito dessas mulheres agredidas de maneira sutil quanto por uma direção de arte minuciosamente pensada para criar rapidamente essas personagens. Das roupas modestas de Cheryl (Anna Kendrick) até o casaco de Amy (Autumn Best), existe uma criação de conceito bastante forte que consegue transmitir as informações necessárias com muita facilidade. Isso ajuda o filme a consolidar o seu ponto sobre ser uma história sobre as vítimas, e não apenas sobre o assassino.


Assim, ainda que existam momentos um pouco confusos e até a perda do eixo da câmera sem motivo aparente em alguns momentos, Anna Kendrick consegue lidar bem com sua primeira direção. Utilizando o assunto em alta com uma abordagem adequada e sensível, ela nos deixa curiosos para suas próximas decisões de carreira. 


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