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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Entrelinhas

Entrelinhas (Brasil, 2023)


Título Original: Entrelinhas

Direção: Guto Pasko

Roteiro: Sebastian S. Claro, Tiago Lipka, Rafael Monteiro e Guto Pasko

Elenco principal: Eduardo Borelli, Daniel Chagas, Leandro Daniel, Gabriela Freire, Carlos Vilas Boas e Mauro Zanatta

Distribuição brasileira: Elo Studios

Duração: 100 minutos


É peculiar como de tempos em tempos parece haver um momento no qual filmes extremamente parecidos são lançados nos cinemas com pouca diferença de tempo. Isso é exatamente o que acontece com Entrelinhas e O Mensageiro, ambos com estreia no Brasil em agosto de 2024.


cena de entrelinhas com garota saindo de carro de militar

Baseado livremente em uma história real de Beatriz (Gabriela Freire), garota que foi presa indevidamente durante a ditadura militar brasileira, acompanhamos todo o seu processo de desumanização durante essa prisão, assim como o esforço de seus pais para retirá-la de lá. Se o roteiro parece conhecido, é por conta da sua semelhança com O Mensageiro, com a principal diferença sendo o foco - na outra obra, coloca-se o personagem do militar que passa o recado da garota para a família, mas aqui o foco é nos personagens que realmente sofrem nas mãos dos militares.


Essa mudança já é bem vinda, dada a dificuldade que a outra obra tem tanto em se manter em um foco narrativo específico quanto em criar a conexão entre o espectador e o personagem principal. Aqui, mesmo que por vezes não se saiba se a garota presa está mentindo, algo que o enredo oculta dos espectadores, se torna muito mais simples compreender seu sofrimento e se interessar pelo seu drama. mesmo para além disso, as semelhanças são enormes. São tocados assuntos muito parecidos, como a influência da teologia da libertação e o uso de protagonistas femininas cercadas por um universo extremamente masculino.


Algo afirmado pelo diretor na coletiva de imprensa pelo diretor paranaense e que realmente é impresso no longa-metragem é a capacidade de mostrar como a ditadura também foi pesada em regiões fora do eixo Rio-São Paulo, que normalmente é retratado em telas. Com isso, ao longo do tempo é possível ter uma compreensão mais ampla do que foi o período no Brasil. Ainda que a informação não seja de difícil acesso, é inegável que a popularidade do cinema ajuda a visibilizar algumas histórias e situações.


Ainda que por vezes os diálogos do roteiro soem superficiais, a força das interpretações e da própria história permite que se avance pelo filme sem grandes problemas. O som é um elemento que se destaca, com o uso do rádio dos carros sendo essencial para se compreender a passagem do tempo. Há elementos pontuais, como a necessidade de nomear alguns espaços, que poderiam ser evitados para uma experiência mais suave, mas que também não chegam a atrapalhar.


O resultado é um bom filme sobre a ditadura, que consegue dar peso aos elementos corretos e realmente trazer essa história outrora ignorada para a luz. Ainda não é a obra mais emocionante ou angustiante sobre o tema, mas cumpre bem o seu papel.


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