top of page
Foto do escritorJean Werneck

Crítica | FFI | Animale

Animale (França, 2024)


Título Original: Animale

Direção: Emma Benestan

Roteiro: Emma Benestan

Elenco principal: Oulaya Amamra, Vivien Rodriguez, Elies-Morgan Admi-Bensellam, Claude Chaballier e Damien Rebattel

Duração: 98 minutos


Emma Benestan eleva a discussão sobre a presença feminina em ambientes masculinizados com body horror singelo. 


Em um pequeno vilarejo na França, Nejma (Oulaya Amamra) treina arduamente para ser respeitada como a única mulher na competição de touradas da região. Após uma noite traumática celebrando com os outros competidores, seu corpo começa a passar por uma misteriosa transformação.



toureira entrando em torneio

A presença da mulher em ambientes tradicionalmente masculinos é uma das questões abordadas pelo cinema. No entanto, algumas diretoras, como Kitty Green e Emerald Fennell, têm ido além, mostrando que a luta não se resume apenas à presença feminina nesses ambientes, mas também ao respeito e dignidade das mulheres onde quer que elas estejam ou o que façam. Em outras palavras, não se trata apenas da ausência de narrativas machistas, mas da visibilidade de narrativas feministas.


Entre os expoentes desse cinema feminista está Emma Benestan, que em Animale, seu segundo longa-metragem, explora o universo masculinizado dos toureiros para criar metáforas visuais sobre a opressão vivida por sua protagonista diante das feras que a cercam. Essas feras, de acordo com a semiótica da produção, são gradualmente subvertidas, brincando com a figura dos touros e dos toureiros e com a relação de Nejma com eles. Desde o pôster, no qual a protagonista é refletida no olho de um animal com certa vulnerabilidade, até os diálogos entre os personagens, Benestan desenvolve um subtexto sutil em que as vírgulas dizem mais do que muitas palavras. Mesmo em um contexto bruto e animalesco, a diretora cria uma atmosfera densa e refinada que reflete o interior da personagem por meio da fotografia, ora com planos abertos e solitários quando ela está na companhia de outros, ora com planos intimistas quando está sozinha.


Diante dessa sensibilidade e riqueza de detalhes, é importante notar que, em uma entrevista ao portal Um Livro, Um Disco, Um Filme, Emma Benestan explicou que cresceu perto da Camargue, cidade onde o longa se passa, e tem familiaridade com o torneio de touradas da região. Portanto, Animale também reflete um pouco da pessoalidade e das vivências da cineasta durante sua formação. A dicotomia entre a humanização dos animais e a animalização do ser humano é abordada de maneira discreta, mas madura, refletindo o processo de maturação pessoal da diretora na realização do filme.


Além dessa dicotomia abordada tematicamente, Benestan utiliza o body horror de forma cinematográfica. O body horror, ou horror corporal, é um subgênero do terror em que a narrativa gira em torno de uma transformação assustadora no corpo do protagonista, desencadeada por algum fenômeno. Exemplos dessa corrente são A Mosca e, para citar um filme mais recente, Titane. Em Animale, o body horror é um aspecto secundário do enredo, com um desenvolvimento tímido. No entanto, ele ainda está presente, e o terror carrega o clímax — não tão surpreendente — e revela eventos conforme Nejma passa por várias mudanças físicas. Junto à protagonista, enfrentamos o olhar masculino, o desejo reprimido por vingança e o mecanismo de autodefesa feminino.


Por fim, Animale nos desloca da posição dos toureiros que tentam dominar o espírito animal da fera e nos expõe à posição vulnerável do touro, a partir da perspectiva da protagonista.


Комментарии


bottom of page