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Foto do escritorJean Werneck

Crítica | FFI | Rainhas

Rainhas (Suíça e Peru, 2024)


Título Original: Reinas

Direção: Klaudia Reynicke-Candeloro

Roteiro: Klaudia Reynicke-Candeloro e Diego Vega Vidal

Elenco principal: Susi Sánchez, Abril Gjurinovic, Luana Vega, Tatiana Astengo, Jimena Lindo e Gonzago Molina

Duração: 104 minutos



Em premissa despretensiosa, Klaudia Reynicke retorna ao cinema independente com linguagem tímida. 


Lima, verão de 1992. A crise socioeconômica assola uma família, levando as jovens irmãs Lucia (Abril Gjurinovic) e Aurora (Luana Vega) a se reaproximarem do pai, há muito afastado. Com a iminente possibilidade de elas e sua mãe se mudarem para os Estados Unidos em busca de qualidade de vida, aproveitam as férias na pacata cidade litorânea onde cresceram.


almoço em família no filme Rainhas

Depois de The Nest e Love Me Tender, duas primeiras obras de Klaudia Reynicke selecionadas para eventos internacionais de cinema, a jovem diretora e roteirista retornou ao circuito dos festivais com Rainhas, premiado no Festival de Sundance 2024. Sua terceira produção, semelhante às anteriores, possui ênfase no rompimento de desafios pessoais das protagonistas a partir de um cinema intimista sem exageros, consolidando Reynicke como um nome promissor do cinema independente recente.


A princípio, Rainhas não me chamou a atenção. A premissa despretensiosa e o primeiro ato um tanto quanto casual e cotidiano me deram a impressão de um daqueles filmes em que nada acontece e você sai da sessão mais vazio do que entrou. Contudo, conforme a narrativa avançava e a complexidade da relação entre os personagens se intensificava, o interesse pela história surgiu gradualmente.


Lucia e Aurora são personagens comportamentalmente distintas, mas complementares. Lucia — destaque do elenco com a carismática performance de Abril Gjurinovic — está desbravando o auge da infância e construindo suas principais memórias com a ausência do pai. Já Aurora está na adolescência tentando preencher seus vazios enquanto se conforma com as desilusões em relação ao pai. Ambas estão lidando com a frustração de ver a família desmoronar e buscam lidar com isso à sua maneira. A mais nova se torna dependente emocionalmente das referências femininas próximas — como a mãe, a irmã ou a avó materna — enquanto a mais velha transfere as expectativas para os amigos, namorado e bebida.


Apesar desses sentimentos densos, Reynicke entende que as personagens ainda não têm total noção do contexto em que estão vivendo. São apenas uma criança e uma pré-adolescente se relacionando com arealidade e reformulando o tempo todo a visão que possuem do pai, da mãe, da cidade onde moram, uma da outra e de si mesmas. Com esse gancho das relações parentais emaranhadas, a diretora deixa florescer uma cumplicidade entre Lucia e Aurora. As cenas das duas dividindo o tempo na frente do ventilador, brigando porque a mais nova quer seguir a mais velha ou se acolhendo em momentos de vulnerabilidade valorizam os bons momentos que irmãos podem ter juntos numa fase conflituosa como essa.


Entretanto, se a simplicidade cai bem na forma como retrata a relação entre as irmãs, ela acaba por ser reducionista para o restante do filme. A parte técnica, como o uso da fotografia, da trilha sonora ou dos movimentos de câmera para compor a experiência cinematográfica, é rasa. Nesse quesito, Rainhas continua a não chamar a atenção. Não há nenhum elemento sensorial que aprofunde minha relação com os personagens ou que gere um contraste ou subjetividade para uma reflexão mais ampla. A humanização narrativa e o subtexto ficam apenas para o roteiro e tornam o enredo linear por não conversarem com outros elementos. Os dias de praia com o pai, as alfinetadas entre o casal divorciado e o clímax de iniciar a vida em outro país ou se fincar nas suas raízes trazem arcos dramáticos envolventes, mas falham em se submergir na linguagem do cinema de maneira integrada.


Assim, Klaudia Reynicke dá o nome como roteirista, mas esquece de seu nome como diretora, perdendo a oportunidade de desvendar mais inventividade conceitual em uma obra em que tinha domínio criativo pleno. A rainha põe sua coroa no cinema independente, mas deixa de lado a majestade que ornamenta esse processo.



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