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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Garra de Ferro

Garra de Ferro (Sean Durkin, 2024, EUA e Reino Unido)


Nome Original: The Iron Claw

Roteiro: Sean Durkin

Elenco principal: Zac Efron, Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Maura Tierney, Holt McCallany e Lily James

Distribuição brasileira: California Filmes

Duração: 132 minutos


Alerta de gatilho: o filme tem elementos ligados à depressão e suicídio.


Em quase todas as aulas de roteiro para audiovisual, uma das primeiras lições dadas é sobre a necessidade de escrever sobre algo de que se é apaixonado para poder criar um filme acima da média. É claro que bons roteiristas podem escrever ótimas histórias sobre temas com os quais não têm nenhuma afinidade, mas em filmes como Garra de Ferro se percebe que a motivação de interesse pessoal pode ser um excelente combustível. Sean Durkin não é um desconhecido do cinema e TV, tendo produzido muitos filmes e dirigido e escrito alguns. No entanto, nada feito antes deste projeto cuja escrita lhe tomou pelo menos cinco anos se destaca tanto quanto ele.



A maldição da família Von Erich talvez fosse conhecida por fãs de luta-livre do Texas, mas é desconhecida no Brasil por conta da sua especificidade. Ela acaba se assemelhando aos muitos casos da cultura popular que envolvem um pai abusivo com um objetivo frustrado que acaba descontando o sentimento em seus filhos. No longa-metragem, parece haver um retrato quase fiel da realidade,com Fritz Von Erich (Holt McCallany) e Doris Von Erich (Maura Tierney) sendo os pais de cinco filhos: Jack, Kevin (Zac Efron), Kerry (Jeremy Allen White), David (Harris Dickinson) e Mike (Stanley Simmons). Está aqui a primeira adaptação da realidade, que envolvia seis filhos, mas que o roteirista e diretor preferiu adaptar em cinco personagens tamanha a dramaticidade da história já com essa formatação.


Se a história real já é por si só um roteiro de cinema, a primeira qualidade está em como essas pequenas adaptações foram realizadas sem remover o caráter principal da obra de criticar os sistemas mostrados. Se a primeira instituição atacada é a do esporte competitivo de alta performance, mostrando tanto o esquema existente por baixo de planos quanto os preços pagos pela saúde física e mental dos atletas, ao pouco também fica clara a crítica estrutural a essa família tradicional e disfuncional. Ainda que muito sofrimento tenha que ser colocado em tela para gerar a sensação de que todas aquelas vidas foram fortemente afetadas pela obsessão do pai, não se tem a sensação de que ele está colocado em tela em vão.


O diretor demonstra também que tem um bom domínio técnico através das escolhas que faz para a fotografia e montagem do filme. Uma das principais escolhas que imprimem uma estética particular ao filme ao mesmo tempo em que ajudam os espectadores a entender um pouco melhor o universo apresentado é com as cenas de luta, normalmente retratadas a uma certa distância que permite que o espectador entenda parte do caráter coreografado do que acontece no ringue. Mesmo que as regras não sejam absolutamente claras, compreende-se o principal para que a obra faça sentido, que é o que existe por trás das premiações dos eventos. A montagem segue na mesma lógica, sendo utilizada a favor da narrativa para facilitar grandes saltos temporais apresentados através de datas de lutas. Elimina-se a necessidade de um didatismo excessivo, e ao mesmo tempo se cria uma linha do tempo clara.


Como não poderia deixar de ser, as atuações também são um elemento essencial para garantir o sucesso da trama, principalmente por conta de sua dramaticidade que poderia beirar o pieguismo. Apesar de ser difícil desconsiderar o passado de Zac Efron como ator infantil, é realizado um ótimo trabalho ao apresentá-lo como uma espécie de gigante gentil, dado seu físico de lutador somado à personalidade voltada aos valores familiares e de união. Mesmo a sua imaturidade é comovente, mostrando todo o caminho que ele poderia ter percorrido mas abdicou apenas para tentar trazer orgulho ao pai. Neste sentido, a obra acaba conversando com um grande público que pode não ter interesse nenhum em esportes.


Ainda que trazendo um recorte específico de uma história muito triste, o filme traz à tona uma mentalidade de uma época e questiona tanto seus princípios quanto seus resultados. Se estivesse no ringue, o diretor seria facilmente declarado campeão.


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