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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Meu Casulo de Drywall

Meu Casulo de Drywall (Brasil, 2023)


Título Original: Meu Casulo de Drywall

Direção: Caroline Fioratti

Roteiro: Caroline Fioratti

Elenco principal: Bella Piero, Maria Luísa Mendonça, Daniel Botelho, Caco Ciocler, Marat Descartes, Debora  Duboc e Flávia Garrafa

Distribuição brasileira: Gullane

Duração: 115 minutos  


Aviso: este filme pode causar diversos gatilhos. Assista com responsabilidade.


Quando se inicia, Meu Casulo de Drywall deixa uma dúvida sutil sobre qual será o seu verdadeiro tema, escondido entre uma mãe que parece muito autocentrada (Maria Luísa Mendonça) e uma juventude que parece encaixar perfeitamente no estereótipo de alienada. Estamos entrando no universo de Virgínia (Bella Piero), uma garota da classe alta paulistana que está celebrando seu aniversário de 17 anos em uma festa regada a álcool e drogas, ainda que sob a vigilância à distância de sua mãe.


bexigas de um aniversário de 17 anos com a mãe ao fundo

Mas, conforme apresentado na sinopse e também já no início do longa-metragem, esse tom muda quando, na manhã seguinte, descobrem a garota morta. Entre as desconfianças sobre quem poderia tê-la matado e um luto desesperado dos presentes e da família, o filme cria uma narrativa não linear, misturando os acontecimentos do dia seguinte aos da noite anterior. Assim, enquanto vamos descobrindo os fatos que acabam causando a morte, também entendemos o luto de cada um dos personagens.


Essa estrutura desconstruída é um dos pontos altos da obra, permitindo que se mantenha um ritmo e uma alternância de cenas que funcionam bem para a narrativa. Ao invés de termos apenas uma noite um tanto alucinada seguida por um dia de ressaca e arrependimentos. Cenas com um andar mais lento são alternadas com cenas aceleradas, e com isso o espectador não consegue desgrudar os olhos da tela. E, pensando que a obra poderia parecer desconexa entre essas metades, essa montagem é essencial.


Isso se alinha a uma estética bem planejada e que valoriza todos os planos. Os mesmos esforços para criar a parte mais ativa são dados à parte mais dramática, com objetos sendo reutilizados e alguns momentos sendo ressignificados com o correr do filme. Essa consciência do roteiro é importante, ainda mais ao considerarmos que, por estarem sempre dentro do condomínio onde moram, o filme acaba sendo também sobre o isolamento. 


Ao mesmo tempo, percebe-se que o roteiro acaba tentando tocar em muitas questões, e de vez em quando se perdendo em seu propósito. Claro, é interessante que a melhor amiga da garota seja a única menina negra presente, mas acena-se mais do que o necessário para deixar claro que está se criando uma situação de racismo. O mesmo acontece com outras temáticas, como a homofobia, o estupro, o uso da internet como um lugar para alimentar o ódio. Muitas ideias gestadas estão presentes, mas falta a sutileza de conseguir introduzi-las de modo que não se sobressaia ao roteiro, que tenta prezar por uma naturalidade. As cenas acabam ficando desconexas, mesmo quando se entende que o ponto de partida tem boas intenções.


Esse mesmo pensamento se alonga ao pensarmos em qual é o público alvo do filme. Principalmente os temas mais importantes, como sexualidade e saúde mental, parecem ser tratados de forma antiquada, mais voltada a um público já amadurecido e que lidou com esses problemas em sua adolescência. Usando o cinema como uma forma de terapia e que leva a obra para essa chave mais pessoal, em algum momento realmente se perde o controle de que a obra ocorre em uma nova geração, com problemas que talvez não sejam exatamente iguais aos de 20 anos atrás.


Assim, apesar de ser uma obra com temática e estrutura interessantes, existe uma falta de polimento que não permite que a experiência seja a melhor possível. Mas é importante notar que é um filme nacional que foge das narrativas tradicionais e conta uma história de maneira original.


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