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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Mostra de SP | Arca de Noé

Arca de Noé (Brasil, Índia e EUA, 2024)


Título Original: Arca de Noé

Direção: Sérgio Machado e Alois Di Leo

Roteiro: Sérgio Machado, Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães

Elenco principal: Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet, Alice Braga, Lázaro Ramos, Julio Andrade, Rihana, Bruno Gagliasso e Gregório Duvivier

Duração: 96 minutos

Distribuição brasileira: Imagem Filmes


O novo longa-metragem de animação 3D Arca de Noé vem de um projeto grandioso de tentar fomentar a produção brasileira de filmes com essa técnica, dada a maior capacidade produtiva do setor de animação 2D, mais comum na televisão do que no cinema. Assim, junto à uma ideia de partida da família de Vinicius de Moraes, o projeto de poesia infantil já anteriormente musicado ganha novos arranjos para se tornar um filme infantil.



O filme segue a linha narrativa proposta pelos poemas, de utilizar o trecho bíblico de Noé para dar base para uma história. Aqui, ele acaba criando uma especificidade que é a de contá-la a partir da dupla de ratos boêmios e cantores Vini e Tom. Existem algumas atualizações de texto necessárias de se realizar para atualizá-lo, como comentar sobre a questão de uma fêmea e um macho sendo levados - mas sem nunca trazer à tona a questão da reprodução, essencial para a sobrevivência das espécies após o dilúvio, mas que poderia causar um problema ao ser citada em um filme infantil. Assim, em muitos momentos, há uma estranheza entre tentar alinhar o discurso a algo mais progressista e se manter minimamente conservador, considerando que o país que assistirá o filme é conservador.


Ainda assim, a obra que se desenvolve é divertida e relevante sob a perspectiva de trazer a obra do poeta para uma nova geração. Mesmo que muitos de seus poemas tenha permanecido presente no imaginário popular brasileiro, aqui há uma estruturação que deixa clara sua autoria. Soma-se a isso a composição desses novos arranjos por artistas contemporâneos, gerando uma atualização necessária devido às mudanças naturais que ocorrem na cultura ao longo do tempo.


As escolhas dos atores de vozes também é muito bem colocada, com um pensamento claro sobre toda a escalação e ela fazendo muito sentido no resultado final. A participação da família de Vinicius de Moraes também é clara na obra, seja por sua neta interpretando uma das canções ou pela possibilidade de usar o material livremente, algo raro quando se pensa na herança cultural deixada por um grandioso artista.


Sendo este projeto extremamente importante para a manutenção de uma cultura genuinamente brasileira, algo que gera muito estranhamento é o discurso em relação à animação brasileira. Foi comentado durante a coletiva de imprensa realizada em São Paulo que a ideia do projeto também era iniciar um desenvolvimento da técnica de 3D no país, mas ao mesmo tempo, explicou-se que as cabeças de departamento eram brasileiras, mas o trabalho braçal da animação foi realizado na Índia. Obviamente, todos os passos dados em relação a uma maior produção brasileira são interessantes, mas desconsiderar a necessidade de treinamento de profissionais técnicos no país parece ser um caminho pouco eficiente para chegar a esse objetivo.


O resultado acaba sendo esse filme que parece realmente estar em um momento de transição, ainda sem saber exatamente como será a cara dessa animação brasileira em 3D. Divertido, mas oscilando entre progressista e conservados, divertido, mas com ausência de cenas realmente impactantes nas quais se sinta emoções mais complexas, ele é um passo importante, mas ainda não parece o resultado final de um processo.


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