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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Mostra de SP | Enterre Seus Mortos

Enterre Seus Mortos (Brasil, 2024)


Título Original: Enterre Seus Mortos

Direção: Marco Dutra

Roteiro: Marco Dutra baseado no livro de Ana Paula Maia

Elenco principal: Selton Mello, Marjorie Estiano, Danilo Grangheia, Betty Faria, Maria Manoella, Chao Chen e Vittória Seixas

Duração: 128 minutos

Distribuição brasileira: Globoplay


Ainda antes de se iniciar a sessão do filme Enterre Seus Mortos, tanto elenco quanto o diretor avisaram à sala: preparem-se para um filme estranho. Seu aviso estava absolutamente correto, com uma obra que utiliza a forma para contar a própria história e se desprende de qualquer tipo de realismo para fazê-lo.


cena inicial do longa enterre seus mortos

Somos apresentados a um Brasil distópico com foco nas regiões de interior, se afastando da noção mais comum de criar o fim do mundo a partir dos locais de maior aglomeração humana. Neste local, conhecemos Edgar Wilson (Selton Mello), um homem que vive uma vida igualmente estranha, se dividindo entre a tarefa de retirar animais mortos da estrada, ver sua namorada Nete (Marjorie Estiano) e conversar com seu amigo, colega de trabalho e ex-padre Tomás (Danilo Grangheia). No meio dessa rotina já peculiar, ele também lida com o aparecimento de um culto na região.


O ponto alto do filme é essa realidade alternativa que ele cria. Apesar de não ter lido o livro e não saber o quanto dessa criação vem por conta dele, há elementos suficientes para que fique curioso sobre o que deu errado, mas também não o suficiente para desvendá-los todos e resolver todos os pontos da história. Há uma grande lacuna que fica para ser preenchida pelo espectador, mesmo que o filme carregue construções visuais e sonoras particulares. Ele inclusive pega elementos emprestados de gêneros que vão do sci-fi até o horror cósmico, conseguindo fazer a partir desse remix a sua própria versão do fim do mundo.


No entanto, no meio de tantas informações, a própria narrativa acaba um pouco prejudicada pelos excessos. Ainda que tenha toda essa estrutura bastante livre, ele ainda tenta se prender a algumas estruturas clássicas como a de uma história em três atos, e nessa tentativa que ele perde parte de sua força. A partir da metade do filme, para-se de tentar entender o que está acontecendo para apenas seguir com os personagens em sua jornada, e se aí o filme se abrisse mais para uma jornada de sensações ao invés de acontecimentos, talvez seu impacto conseguisse ser ainda maior.


Ele se volta para uma narrativa de tragédia e vingança que trás uma grande quantidade de conceitos em um período muito curto de tempo, perdendo parte da atenção do espectador. Ainda assim, o faz em grande estilo plástico, com um céu rosa arroxeado que parece saído de uma descrição de Lovecraft e de uma médica saída do imaginário de um filme de terror bastante perturbado. Ele consegue utilizar a direção de arte para ajudar a contar sua história, com elementos de permanência como os calendários de parede e panos de chão que se assemelha aos da atualidade misturados com elementos completamente desconhecidos, como a máquina de moer animais para fazer fertilizante. Isso é realizado de forma equilibrada, com cenas como as crianças fazendo churrasco de cachorro não sendo uma grande surpresa considerando o resto da narrativa. Mas, como em todo universo de ficção científica bem construído, há uma grande vontade de explorar mais profundamente o que foi criado.


Não encontrando esse equilíbrio, o andamento do filme fica prejudicado, com a sensação de que ele nunca acaba enquanto ele se aproxima de seu último terço. Mesmo que as cenas sejam individualmente muito bem dirigidas e atuadas, ele não se decide entre físico e metafísico e gravita excessivamente, sem conseguir chegar a um pouso final.


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