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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Mostra de SP | Malu

Malu (Brasil, 2024)


Título Original: Malu

Direção: Pedro Freire

Roteiro: Pedro Freire

Elenco principal: Yara de Novaes, Juliana Carneiro da Cunha, Carol Duarte, Átila Bee, Marcio Vito, Felipe Haiut e Marina Provenzzano

Duração: 100 minutos


Se todas as pessoas têm os seus próprios traumas da criação, seja qual for, ter uma família envolvida no meio artístico é particularmente complicado. Isso porque a arte demanda muito do artista, e envolve elementos como o orgulho e a vaidade - elementos raramente positivos em um cuidador, e muito raramente colocados no cinema ligados à figura feminina. E é justamente o que Pedro Freire faz em Malu, utilizando elementos da convivência com a mãe para fazer um retrato póstumo dela.


yara de morais e atila bee em cena do filme malu

O diretor, em conversa após a exibição do filme, explicou que a personagem Joana (Carol Duarte) é uma concatenação entre ele mesmo e sua irmã, Isadora Ferrite, também atriz e preparadora de elenco. Em sua estreia como diretor de longa-metragem, ele apresenta ao público uma visão sobre a vida de sua mãe em um período que vai de seus cinquenta e poucos anos até sua morte. Mas, ainda que esteja falando também sobre seu diagnóstico e momentos mais complicados de cuidados, fala muito mais sobre sua vida.


Malu nos é apresentada como uma personagem completa, tão cheia de qualidades quanto de defeitos. Criada pela mãe conservadora Lili (Juliana Carneiro da Cunha), ela se liberta de todos os seus preconceitos para viver a sua vida como deseja. Mas se isso tem o seu lado positivo, também é equilibrado pelo negativo, machucando quem quer que seja para chegar à liberdade. Consegue ser adorável com amigos e com os amigos dos filhos, mas tem traços dessa criação conservadora que aparecem de tempos em tempos no convívio contínuo que tornam a vida de seus filhos complexa. Se mata de rir, agride a mãe, fuma seu baseado, sofre suas ressacas, tudo com uma autenticidade que apenas alguém com convivência com Malu poderia recriar, e que Yara de Novaes consegue capturar em tela. Felizmente, ela consegue superar qualquer expectativa sobre o papel, sendo essencial para a boa execução da obra.


Esse estudo de personagem gera um retrato tão difícil quanto necessário de uma realidade presente em quase todas as famílias brasileiras nesse momento de fragilidade democrática. O embate geracional é um dos elementos mais centrais da obra, e ele mostra uma resolução complexa da situação, com a descoberta da doença sendo um elemento importante para a resolução. Aqui, a vida supera a arte e o que poderia ser discutido e resolvido entre as mulheres é absolvido por um laço familiar muito forte e bastante latino - inclusive gerando curiosidade sobre sua recepção em países com noções de família diferentes.


Emocionando e relembrando um nome importante do teatro brasileiro, o filme tem um papel importante em relação à manutenção dessa memória. E, só sendo possível de ser realizado pelo seu filho, se torna uma obra única em seu modo de contar que varia tranquilamente entre o delicado e o brutal.


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