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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Mostra de SP | Mambembe

Mambembe (Brasil, 2024)


Título Original: Mambembe

Direção: Fabio Meira

Roteiro: Fabio Meira e Susana Barriga

Elenco principal: Índia Morena, Madona Show, Murilo Grossi, Dandara Ohana

Duração: 98 minutos


Procurando por uma definição mais específica do que seria mambembe, palavra que dá título ao novo longa-metragem de Fabio Meira, é fácil encontrá-la no Michaelis . A palavra tanto se refere ao grupo teatral nômade, que viaja de região em região, como pode ser um adjetivo para qualificar algo como imprestável. É fácil então entendermos como esse duplo significado já é aplicado ao longa-metragem: ele tanto revisita o seu projeto para o primeiro longa-metragem que nunca foi finalizado e que contaria a história de um circo nômade quanto ressignifica esse material que poderia se resumir a algo imprestável em sua cinematografia.


índia morena se maquia em cena do filme mambembe

O filme inicial, que começou a ser gravado em 2010, contaria a história de um topógrafo (Murilo Grossi) que acaba conhecendo três mulheres circenses arquetípicas. A primeira seria Índia Morena, uma senhora decidida e dona do circo, Madona Show, uma mulher trans que performa sua feminilidade com a dança, e por fim Dandara Ohana, a garota mais jovem e mais recente ao ambiente circense, que faz shows de bambolê e contorcionismo. Ainda que o roteiro exato não fique muito claro no filme, o que observamos é uma mistura dos estudos do próprio Fabio Meira sobre esses personagens e algumas das cenas do filme já gravadas. Entre a preparação do elenco de atrizes inexperientes e a falta de paciência do ator experiente com o diretor novato, vamos compreendendo os motivos para o filme nunca ter se tornado uma realidade.


Trazendo alguma semelhança ao filme de mea culpa de João Moreira Salles, Santiago (2007), o ponto de partida é o de retomar um projeto considerado perdido com uma maior maturidade, mas com o adendo de que para Meira, ainda existe a perspectiva de se sair de um processo ficcional para um documentário. É perceptível em tela o processo de desapego do diretor ao roteiro original para poder mostrar ao público quais eram as suas intenções, quais foram os impeditivos e como ele mesmo não tinha acesso aos mecanismos necessários para lidar com os acontecimentos naquele momento.


Assim, acessando esse material novamente com alguns anos de experiência na área do cinema e alguns filmes já muito bem sucedidos, existe uma chance de encontrar a paz com esse material guardado. Tanto reencontrando as suas protagonistas e compreendendo o caminho que suas vidas levaram como podendo exibir para elas o material captado, percebe-se um encerramento de ciclo importante para todos os envolvidos. Com as cenas circenses muito bem captadas, existe uma possibilidade de criar novos laços com o passado.


Fábio Meira mostra que ganhou tanto sensibilidade quanto uma maior adaptabilidade aos fatos que a vida real apresenta ao fazer cinematográfico. De quebra, ainda presenteia o seu público com esses personagens que poderiam ser invisibilizados e uma reflexão sobre a necessidade de amadurecimento para que determinados projetos possam obter sucesso.


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