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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Mostra de SP | Maria Callas

Maria Callas (Itália, Alemanha, Chile e EUA, 2024)


Título Original: Maria

Direção: Pablo Larraín

Roteiro: Steven Knight

Elenco principal: Angelina Jolie, Kodi Smit-McPhee, Alba Rohrwacher, Valeria Golino, Haluk Bilginer, Pierfrancesco Favino, Caspar Phillipson e Paul Spera

Duração: 124 minutos

Distribuição brasileira: Universal Pictures


Por mais que a música clássica e a ópera não estejam mais tão presentes na vida da população com a ascensão dos gêneros mais modernos como o rock e o pop, sua presença dentro do cinema permanece gigantesca. De Tár (2022) a O Maestro (2023), parece que todo ano estamos tendo uma nova produção que foque nesse universo quase desconhecido pela maioria da população - e agora foi a vez de Maria Callas (Angelina Jolie), considerada a maior cantora de ópera do mundo, ter sua história recontada para uma nova geração através do cinema.


angelina jolie interpretando maria callas

No entanto, precisamos considerar que este é um filme que entra na Trilogia de Mulheres de Salto de Pablo Larraín, que começou com Jacqueline Kennedy, passou pela princesa Diana e agora chega a Callas. Como os outros filmes, trata de uma visão bastante específica e intimista da vida dessa mulher a partir de um recorte igualmente específico de tempo. No caso, o período anterior à sua morte, revisitando os melhores e piores momentos de sua vida enquanto altamente dopada de Mandrax, um remédio que logo foi classificado como uma droga ilícita nos anos 1980.


Assim como nas outras obras citadas, o diretor imagina livremente sobre acontecimentos a partir da personalidade e dos antecedentes da personagem, não tendo nenhum compromisso em se manter fiel à realidade. Com isso, é possível ter uma maior liberdade criativa e refletir de maneira mais poética sobre os acontecimentos. Como exemplo, nos primeiros momentos em que Callas tem alucinações, obviamente seria impossível alguém saber o que estava acontecendo no íntimo da cantora. O diretor aproveita então para criar um momento de reflexão sobre a sua mortalidade e  sua complexa relação com a música.


Existem dois aspectos do filme que funcionam perfeitamente, e é necessário dizer que o primeiro deles é a atuação de Jolie. Conseguindo entregar falas crípticas de uma maneira delicada, trazendo a fragilidade e a força com a mesma intensidade e tendo uma verdadeira empatia com a personagem, seu trabalho é memorável. Apesar de os grandes momentos serem os que provavelmente serão lembrados, como quando ela ouve a si mesma em disco e percebe que jamais voltará à perfeição das gravações, são os pequenos momentos como o carteado com seus funcionários que criam profundidade.


O outro aspecto é a estética. Paris sempre está linda em tela, mas aqui todas as locações são tratadas como grandiosas. Da Torre Eiffel ao fundo de cenas até o acúmulo de folhas outonais caídas no chão, tudo é mais vívido pela câmera que ressalta brilho e contraste na simulação da cabeça frequentemente drogada. A intensidade dos acontecimentos, assim como a beleza das construções e figurinos é ressaltada por essa fotografia estilizada.


Larraín trata sua protagonista da mesma forma humana que as outras, mas talvez o descolamento da realidade de Maria Callas afaste mais ainda o público, mesmo o ritmo deste filme sendo consideravelmente mais rápido que das outras biografias da trilogia. Com um visual que vale mais a pena do que a história que está sendo retratada, uma tragédia grega de subordinação feminina baseada em fatos reais, talvez seja a sua criação mais inacessível, refletindo também o desconhecimento da cantora para a maior parte do público brasileiro.


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