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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | O Mensageiro

O Mensageiro (Brasil e Argentina, 2023)


Título Original: O Mensageiro

Direção: Lúcia Murat

Roteiro: Lúcia Murat e Tunico Amâncio

Elenco principal: Shico Menegat, Georgette Fadel, Valentina Herszage, Floriano Peixoto, Javier Drolas e Beatriz Barros

Distribuição brasileira: Imovision

Duração: 110 minutos


Existem períodos históricos que, por conta de peculiaridades ou absurdos ocorridos, são retratados diversas vezes nas telas dos cinemas. Isso acontece muito com guerras, revoltas e outras situações que são abordadas através de diversos pontos de vista quase como em uma tentativa de fazer a coletividade lidar com o trauma. Como não poderia deixar de ser no Brasil, dada a sua história recente, um dos principais traumas coletivos que ainda precisamos superar é a ditadura militar.


julgamento durante o filme o mensageiro

É clara a tentativa de O Mensageiro de trazer um novo ângulo à discussão, principalmente pela escolha narrativa de trazer como personagem central um militar em crise, que não consegue lidar com a desumanização necessária à tortura, Armando (Shico Menegat). Vendo uma jovem de classe média-alta passando por diversos abusos, ele passa por uma grande crise de consciência e acaba se tornando o mensageiro entre a menina presa e seus pais que a buscam do lado de fora. Pensando por este sentido, até são abordados assuntos não tão comuns na filmografia brasileira, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e a dificuldade em lidar com a vida fora do trabalho. Então, talvez se ele se mantivesse apenas nessa linha narrativa, poderia trazer mais elementos à mesa.


Ao invés disso, o filme se perde tentando abarcar muitos pormenores já explorados em outras obras e se torna mais genérico. Trazendo um pouco da relação dual da Igreja Católica com a ditadura, um pouco sobre o sofrimento das famílias, um pouco da perseguição aos estrangeiros, um pouco do sofrimento dos torturados e até um pouco do sadismo de torturadores, há muitos assuntos que são pincelados e nunca desenvolvidos. Com isso, essa sensação de que existe uma necessidade de mostrar todos os elementos envolvidos ao invés de focar em uma história específica, o mensageiro que dá nome ao filme acaba sendo parte cada vez menos relevante dele e se gerando uma narrativa cada vez menos potente.


Há uma grande quantidade de elementos que fica solta na narrativa e que, apesar de se compreender que estão lá para a geração de certo contexto, são importantes demais para serem ignorados como apenas uma criação de contexto para o pânico moral. Esses elementos, como aborto, traição, emancipação feminina, início das pornochanchadas, estão desencadeados da totalidade da obra, e ao encerrar do filme geram mais questionamento sobre os motivos de estarem ali do que alguma solução dentro da própria obra.


A estética da obra, que poderia ser um elemento que traz unidade, também é mal explorada, com o filtro amarelado do passado sendo utilizado na fotografia e sendo feito um trabalho básico em relação a enquadramentos. O mesmo ocorre para a direção de arte e figurino, que fica presa ao básico e não consegue se destacar.


O resultado é um filme que, se fosse o único sobre o assunto, seria bom. Mas, infelizmente, é facilmente ocultado pelo brilho de outras obras mais emocionantes e que conseguem trazer mais atenção à importância de discutir a anistia brasileira.


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