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Foto do escritorJean Werneck

Crítica | O Sabor da Vida

O Sabor da Vida (2023, França e Bélgica)


Nome Original: La passion de Dodin Bouffant

Direção: Anh Hung Tran

Roteiro: Anh Hung Tran e Marcel Rouff

Elenco principal: Juliette Binoche, Benôit Magimel, Emmanuel Salinfer, Patrick d'Assumçao, Galatéa Bellugi e Jan Jammenecker

Distribuição brasileira: Diamond Films

Duração: 135 minutos    


Com serenidade e elegância, Juliette Binoche protagoniza romance apetitoso capaz de romper com o tecnicismo gastronômico. 


A gastrônoma Eugénie (Juliette Binoche) e o chef e crítico gastronômico Dodin (Benoît Magimel) fermentam uma relação de afeição há 20 anos cozinhando juntos para diversos entusiastas da gastronomia francesa. Contudo, a persistente paixão de Dodin por Eugénie leva ambos a experimentar  novos sabores em suas vidas. Depois de vinte anos dedicados à trilogia vietnamita - composta por O Cheiro do Papaia Verde, Entre a Inocência e o Crime e The Vertical Ray of the Sun (sem tradução oficial para o título em português) -, Tran Anh Hung explora o cinema francês com O Sabor da Vida e emprata o romance de época delicadamente com sua direção. 



A apresentação de uma ópera gastronômica a partir da preparação de um menu completo. Assim pode ser descrito o primeiro ato do longa, que já divide o espaço empírico da cozinha, liderado por Eugénie, e o espaço teórico da sala de jantar, liderado por Dodin. Apesar de termos apenas mulheres na cozinha e homens na sala de jantar, o argumento do roteiro não trata de questões de gênero diretamente, mas aborda visões de vida diferentes com foco nos dois protagonistas e o modo como expressam sua paixão pela culinária. Essa camada temática não é compreendida apenas pelo diálogos situacionais das cenas, mas está representada na montagem, que alterna entre os dois espaços de modo ritmado, na edição de som, que capta com nitidez sonora cada  textura e crocância dos alimentos, e na fotografia, que é banhada pelo sol como numa manhã de colheita. A afinação dessa orquestra técnica do cinema de Hung leva a entendermos a paixão dos personagens para além da culinária, mas também um pelo outro. 


Dodin está sempre pedindo Eugenie em casamento e esta o recusa repetidamente pelo mesmo motivo: Dodin não a enxerga completamente. Não poderia amá-la como esposa e profissional com a mesma intensidade e isso deixa os dois em uma espécie de amizade colorida. O cozimento paciente do amor deles engata a narrativa com sabores doces e suaves por todo o segundo ato. Entretanto, ao chegarmos no ato final, nos deparamos com uma iguaria amarga de dores que a vida nos serve. Esse momento mais sombrio, esteticamente destacado pela fotografia e figurino em tons mais escuros, é marcado pela ausência de Binoche - esplendidamente serena em seu papel. As cenas antes da saída dela são o ápice de O Sabor da Vida, da mesma forma, que as cenas depois são o declínio em mérito de qualidade. É como se a obra se engasgasse nas últimas colheradas da sobremesa por perder um dos seus ingredientes principais. 


Apesar do rápido deslize, o diretor redireciona o foco do espectador para o que realmente importa: A gourmetização da vida precisa ser deixada de lado para degustarmos a simplicidade. Isso vale para um talento nato na culinária ou para o amor de verão da sua vida. Logo, O Sabor da Vida é uma iguaria dos romances de época emprestado pelo cinema francês que não só nos enlaça pro estômago, como também pelo coração. 

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