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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | Pisque Duas Vezes

Pisque Duas Vezes (México e EUA, 2024)


Título Original: Blink Twice

Direção: Zoë Kravitz

Roteiro: Zoë Kravitz e E.T. Feigenbaum

Elenco principal: Naomi Ackie, Channing Tatum, Alia Shawkat, Christian Slater, Simon Rex, Adria Arjona, Haley Joel Osment e Geena Davis

Distribuição brasileira: Warner Bros.

Duração: 102 minutos


Se você se pergunta o que você faria se seu pai fosse um rockeiro milionário, certamente seriam poucas as pessoas que mesmo assim iriam querer trabalhar. Mais do que trabalhadora, Zoë Kravitz mostra com seu primeiro longa-metragem que tem talento no que faz por trás das câmeras.


atrizes naomie ackie e alia shawkat em cena do filme blink twice

Com uma proposta bem ousada e um trailer que, como é a moda recentemente, é muito mais revelador que o desejável, ele tem como base uma trabalhadora comum, Frida (Naomi Ackie), sendo levada para férias paradisíacas em uma ilha pelo bilionário da tecnologia Slater (Channing Tatum). Então, ela e sua amiga Jess (Alia Shawkat) partem para este local desconhecido e de difícil transporte - o que já é um início de horror para praticamente qualquer mulher.


Várias questões são colocadas em jogo por Kravitz, desde o deslumbramento em estar adentrando em um universo muito diferente do seu cotidiano até a repentina atenção de um homem muito poderoso. Desde a segunda cena, o clima de suspense vai se elaborando através de alguns pequenos estranhamentos como o fato de Frida não piscar ao olhar para o celular e o título do filme, que aparece apenas como um piscar no início da obra. Assim como a personagem principal, temos uma compreensão muito restrita do que está acontecendo, então mesmo que se sinta que está acontecendo algo errado, as dicas dadas são suficientemente misteriosas para não entendermos toda a narrativa até que ela decida mostrar o que deseja para nós.


E essas dicas estão tanto no roteiro quanto na execução da obra, se formos capazes de compreendê-las. A direção de arte praticamente grita em nossas caras sem que a gente compreenda, desde o primeiro momento. Além disso, a fotografia alterna entre algo muito bonito, retratando aquela alegria da juventude, com enquadramentos pouco usuais, como quando enquadra ambos os personagens conversando na grama com a perspectiva de quem olha, desbalanceando a imagem. A trilha sonora também tem seu papel, tocando de dia sua versão normal e de noite uma versão bastante distorcida, como um sinal de que ali acontece algo perigoso.


Tudo isso soma a um roteiro que, apesar de ter pequenos furos, consegue amarrar a trama toda de maneira que continua surpreendendo os espectadores até os últimos momentos. Mesmo em situações não tão expressivas, como o momento em que o chefe de Frida, no começo do filme, pede que ela se torne invisível por estar prestando um serviço, mostram uma boa consciência de classe e raça para quem poderia ser apenas uma nepo-baby. Ao longo do filme, se torna óbvio que a consciência de seu gênero também é algo bastante relevante para a diretora. E, além disso, ela consegue inserir pequenas referências fílmicas interessantes, como a referência ao Clube da Luta (1999) que tem ressonância na edição, uso de cores que lembrar Matrix (1999) e até a icônica cena da personagem principal usando a alcunha de Spike Lee, “Wake up” (acorde).


Um último elemento sem o qual o filme não seria possível são as excelentes atuações, ainda que existam tantos personagens que muitas vezes não há o espaço suficiente no filme para nos conectarmos com cada um deles. O casal principal, é claro, consegue levar a trama muito bem, mas Adia Arjona no papel de Sarah também consegue um destaque inesperado. A atriz vive um bom momento de sua carreira.


A obra consegue realizar exatamente aquilo que ela propõe, o que tem sido raro com filmes que envolvam suspense e mais raro ainda para diretores estreantes. Se Kravitz conseguir manter esse nível de produção e evoluir sua cinematografia, ela certamente marcará presença em premiações e se tornará uma diretora de excelência.


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