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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | TIFF 24 | Cloud

Filme #4

Cloud (Japão, 2024) Ainda sem título em português


Título Original: クラウド

Direção: Kiyoshi Kurosawa

Roteiro: Kiyoshi Kurosawa

Elenco principal: Masaki Suda, Kotone Furukawa, Daiken Okudaira, Amane Okayama, Yoshiyoshi Arakawa e Masataka Kubota

Duração: 123 minutos


O questionamento sobre o que uma pessoa comum faria em situações extremas é um tema bastante comum na história do cinema, havendo várias respostas sendo encontradas a partir da visão de cada diretor ou roteirista. Aqui, vemos a mesma questão sendo novamente levantada, com a resposta sendo uma jornada violenta e criminosa.


masaki suda em cena do filme japonês cloud

O longa apresenta um personagem improvável, Yoshi (Masaki Suda), em uma jornada para tentar ganhar dinheiro de um modo mais rápido, ainda que mais arriscado. Já nas primeiras cenas, o vemos explorando um casal mais velho que precisa vender seus produtos através de intimidação, fazendo o básico de qualquer capitalista liberal: comprando barato para vender caro. E, começando a perceber o quanto isto pode lhe dar de dinheiro, ele sai de seu trabalho comum, rejeita as pessoas de seu passado e passa a morar em uma isolada casa em um lago com sua namorada Akiko (Kotone Furukawa).


Um dos maiores feitos do filme é a atuação de Masaki Suda, que consegue passar uma neutralidade em relação aos seus desejos e feitos de maneira vazia, permitindo que o personagem seja realmente apático a tudo e todos ao seu redor. Isso gera inclusive uma reação no público, que muitas vezes se sentirá mais identificado com os antagonistas do que com o protagonista da obra. Ainda assim, se cai nesse espaço obscuro das complicações de querer fazer a justiça com as próprias mãos. O personagem Sano (Daiken Okudaira) também merece destaque, sendo o elemento narrativo absurdo que permite que a história nunca se interrompa.


Falando sobre algo muito contemporâneo, que é o trabalho de revenda, o diretor abre espaço para uma discussão muito mais ampla sobre um sistema produtivo que permite a produção massiva de objetos e a internet como um canal que garante certo anonimato para se realizar golpes. Aproveitando a temática, a obra acaba criando uma plástica também moderna, com cenas de ação que poderiam ter saído de um videogame, com uso de barreiras e variedade de armas que parecem retiradas diretamente de um jogo de tiro. Isso combina com o roteiro absolutamente satírico, que conhece as normas do gênero policial e as aproveita para criar situações absurdas e divertidas.


O que gera maior desapontamento no filme é que suas duas partes principais parecem desconectadas. O momento da mudança é importante para retirar os personagens de uma Tóquio altamente empilhada e passar para a vila pacata. Mas essa transição é feita de forma muito abrupta, assim como a mensagem que ele está passando. Se na primeira metade nos questionamos sobre o sistema capitalista e as ansiedades causadas em pessoas que poderiam ter uma vida tranquila, a segunda metade acaba se tornando essa paródia de thriller que não consegue ultrapassar uma barreira do absurdo que seria necessária para criar um impacto visual e temático maior. A própria violência é bem econômica em sangue, passando a sensação de apatia presente no personagem principal, mas gerando uma reflexão narrativa sobre a mensagem que o diretor quer passar.


É preciso ainda fazer um comentário sobre Akiko, a namorada que é arrastada para uma confusão que não imagina o tamanho. Desde seu aparecimento como uma menina iludida e trabalhadora até as cenas finais, das quais não darei nenhum spoiler, todos os momentos acabam a trazendo para estereótipos machistas, e não há nenhum momento de redenção. Como a única personagem feminina presente na obra, é difícil não sair da exibição sem certa irritação com sua execução.


Mesmo sendo o lançamento de um diretor aclamado e uma obra já indicada pelo Japão para concorrer ao Oscar do próximo ano, o filme deixa a desejar considerando a proposta ambiciosa. Há, é claro, uma maestria no modo que o filme é feito e as cenas são captadas, mas isso não significa que o resultado final seja tão bom quanto essa possível soma de partes.


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