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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | TIFF 24 | On Becoming a Guinea Fowl

Filme #3

On Becoming a Guinea Fowl (Reino Unido, Zâmbia e Irlanda, 2024) Ainda sem título em português


Título Original: On Becoming a Guinea Fowl

Direção: Rungano Nyoni

Roteiro: Rungano Nyoni

Elenco principal: Susan Chardy, Roy Chisha, Blessings Bhamjee, Chungu Bwalya, Maggie Mulumbwa e Elizabeth Chinsela

Duração: 95 minutos

Aviso: O filme contém diversos gatilhos. 



A produtora A24 chegou a um nível de reconhecimento no qual praticamente todo projeto tocado por ela imediatamente se torna algo para ficar de olho. E justamente inspirada nesse fato e na estética levemente surreal do trailer que foi tomada a decisão de priorizar o longa, mesmo não conhecendo o filme anterior e de estreia da diretora Rungano Nyoni Eu Não Sou Uma Bruxa (2017).


atriz susan chardy em cena do filme da a24

Em um primeiro momento, quando vemos apenas Shula (Susan Chardy) dirigindo com um visual quase surrealista por uma estrada, não é possível nem compreender em que país o filme se passa. No entanto, já nas primeiras cenas que desenvolve percebe-se que trata-se do país de origem da diretora, a Zâmbia. Saindo de uma festa, ela encontra um corpo no meio da estrada, que descobre ser do seu tio. Então, se inicia uma sequência de rituais fúnebres bastante típicos, que vão de criar grandes lamentações e choros compartilhados até lidar com a partilha de bens que o falecido deixou.


O primeiro ponto que provavelmente chamará a atenção dos espectadores mais progressistas é a percepção do enraizamento do machismo nessas tradições. É claro que é difícil para alguém não habituado à realidade local compreender a extensão de quanto a diretora está exagerando nessas tradições, mas questões como ter as mulheres incessantemente cozinhando enquanto homens simplesmente pedem pela comida causam estranhamento em uma sociedade que está mudando. Aqui, entra o brilhantismo da diretora e roteirista: ela sabe que essa sociedade está mudando e que em algumas gerações acontecimentos como o que ela retrata não serão tolerados. Aproveita, então, para falar sobre esse momento de choque de gerações de maneira honesta e que consegue ir desde o divertido até o mais profundamente tocante.


O desenvolvimento das relações familiares é realizado de maneira criativa e que consegue deixar claro o ponto da diretora, falando sobre como a relação entre as mulheres está mudando. Mesmo comparando as gerações de mulheres na mesma família, o contraste e a questão do acolhimento entram de forma muito diferente - e o acidente do tio entra apenas como maneira de fazer esse drama familiar andar. O mesmo acontece com a estética específica utilizada principalmente na primeira metade da obra, que em primeiro momento parece que será mais experimental, mas que aos poucos vai para um lugar mais comum.


Então, trazendo esse momento e cultura extremamente específicos, a diretora consegue passar uma mensagem universal sobre como a relação entre mulheres é um dos passos essenciais para a mudança de toda uma sociedade. Entre os figurinos quase surreais, as personagens que parecem tiradas de um puro estereótipo e a situação desesperadora, o longa-metragem consegue atravessar os seus espectadores justamente por trazer em si uma realidade que infelizmente ainda é universal, e que precisa ser colocada em debate.


Trazendo muito mais camadas que parece num primeiro olhar, o filme mostra a sua força ao permanecer com os espectadores muito depois da saída da sessão. E parece ser um bom segundo passo para Nyoni, que nos deixa curiosos sobre suas futuras obras.


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