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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | TIFF | Can I Get a Witness?

Can I Get a Witness? (Canadá, 2024) Ainda sem título em português


Título Original: Can I Get a Witness?

Direção: Ann Marie Fleming

Roteiro: Ann Marie Fleming

Elenco principal: Sandra Oh, Cassandra Sawtell, Reece Presley, Yuki Morita, Jovanna Burke, Andre Anthony, Joel Oulette e Oscar Chark

Duração: 110 minutos


O ano é 2024. Um filme de ficção científica começa na tela. Ele utiliza I Don’t Want to Set The World on Fire, música que ficou famosa por conta da franquia de video games Fallout e que depois se tornou uma série de sucesso da Prime Video. E infelizmente, por conta de uma escolha de trilha sonora, um filme que possuía um potencial entra em um lugar estranho entre não saber se queria se beneficiar da escolha ou se as pessoas que o produziram simplesmente viviam em uma bolha, e em qualquer uma das opções quem sofre o malefício da dúvida é a própria obra.


dois jovens a caminho de presenciar uma passagem no filme can i get a witness

Dado esse início um pouco desastroso, Can I Get a Witness? tem um conceito interessante de futuro no qual, pela questão da ecologia, todos os países entram em um acordo de deixar as pessoas viverem apenas até os 50 anos, para que todos tenham uma chance de ter uma boa vida na terra sem um grande desastre econômico acontecendo. E nesse universo, Felicity (Cassandra Sawtell) está começando seu trabalho como alguém que registra a passagem de pessoas para a morte em desenho, pois câmeras fotográficas não são ecologicamente conscientes. Acompanhamos esses seus primeiros dias se habituando a uma nova realidade lidando com diversos lutos e passagens e compreendendo um pouco melhor o seu próprio mundo e o seu passado.


Como fã de uma boa ficção científica, acredito que o conceito do longa-metragem é tão interessante quanto improvável considerando que todos os países do mundo concordaram com essa mesma imposição, e consequentemente com o fim do capitalismo para o retorno a uma vida baseada na comunidade e em trocas significativas. É o tipo de universo no qual eu adoraria existir, mas simplesmente não consigo acreditar - e o filme insiste em tentar apresentar um realismo através de constantes referências ao seu passado não tão distante, que seria o nosso presente. Ao invés de criar cenas que explicam melhor o funcionamento dessa sociedade, passa-se muito tempo adicionando novas camadas de informações que não são relevantes à narrativa e que soam simplistas quando colocadas nos diálogos dos personagens.


Mesmo com essa complicação conceitual, compreender o papel de uma artista nesse mundo ideal pós-capitalista proposto poderia ser grandioso, ainda mais considerando que estamos em uma obra de arte feita em tempos de uma disputa criativa com a inteligência artificial. Compreender a arte como essa ferramenta poderosa que ajuda a documentar o tempo ao mesmo tempo que facilita o processamento de diversas emoções poderia ser o caminho, mas novamente a escolha feita pela narrativa vai de contramão a isso. Temos uma garota com um dom artístico, mas que o utiliza de maneira puramente técnica, enquanto a sua mãe, anterior a esse processo consegue utilizar algo técnico, como o patchwork, como uma real obra de arte sobre a sua vida e a sua memória. Mesmo o artifício de colocar pequenas animações ao longo do filme parece muito mais estético do que narrativo, com elas acontecendo de maneira inconstante ao longo da obra.


Essas mensagens cruzadas dificultam muito a compreensão do filme. Ele estaria sugerindo que em um momento menos conflituoso, as pessoas seriam menos capazes de criar arte? Se eles parecem colocar essa situação como ideal, mas nesse universo os jovens têm dificuldades como a de compreender o interesse por outras culturas, o que isso sugere sobre a solução encontrada?


O que torna tudo ainda mais desalinhado é considerar que, no site do filme que está citado em seus créditos finais, existe uma seção explicando sobre a preocupação da produção com a sustentabilidade, mostrando que a ecologia realmente é um assunto pelo qual se advoga. Fala-se sobre o uso de materiais renováveis na produção e até no uso de figurinos de segunda mão, mas esse discurso acaba ficando, assim como no filme, subdesenvolvido. Ao lidar com um gênero específico, é necessário compreender bem as suas regras para obedecê-las ou subvertê-las - e esse filme não segue nenhum dos dois caminhos.


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