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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | TIFF | Conclave

Conclave (Reino Unido e EUA, 2024) 


Título Original: Conclave

Direção: Edward Berger

Roteiro: Peter Straughan baseado em livro de Robert Harris

Elenco principal: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Lucian Msamati, Jacek Koman, Isabella Rossellini e Carlos Diehz

Duração: 120 minutos


É estranho pensar que Conclave é um thriller, pois nos últimos anos a maioria dos filmes que retratam algum tipo de Igreja está mais ligada à propaganda do que a algum tom de crítica. Mas Edward Berger consegue criar um suspense político notável a partir de uma situação incomum, que é a votação interna de cardeais da Igreja Católica para a eleição de um novo Papa.


ralph fiennes em cena do filme conclave

Como comentado pelo diretor na sessão, um primeiro elemento que chama a atenção é o acesso que eles tiveram para poder criar e replicar uma situação que na realidade ninguém fora daquele seleto grupo de cardeais tem acesso. Em um processo de imaginar situações e locais, há um realismo impressionante em relação ao que está no imaginário coletivo do processo. O uso de planos que mostram algumas das coisas mais icônicas do processo, como a liberação da fumaça, o toque dos sinos ou até o momento de selar os prédios, ajudam qualquer pessoa a entrar no clima de enclausuramento necessário para sentir a pressão do filme.


Na maior parte da obra, temos a tensão acontecendo entre três candidatos ao papado que representam diferentes aproximações da Igreja. Bellini (Stanley Tucci) é a visão mais progressista, que entende que a religião precisa mudar de acordo com a modernidade do mundo e que determinadas doutrinas apenas afastam pessoas que outrora seriam fieis. Tremblay (John Lithgow), por outro lado, é uma representação de uma tradição que deseja manter todos os ritos e doutrinas excludentes em respeito à tradição. A terceira via apresentada é Adeyemi (Lucian Msamati), que representaria um progresso por ser do continente africano - o que seria uma primeira vez para os católicos - mas que tem valores ainda mais conservadores. A grande discussão do filme fica em torno do significado do divino na vida dessas pessoas e nas necessidades de renovação de uma instituição milenar.


Os acontecimentos são dignos de qualquer bom thriller político, de sabotagens, votações apertadas e pessoas em crise com a sua fé e até com sua própria personalidade ao se ver nessa posição de disputa. São dramas que poderiam cair em um lugar comum facilmente, mas que não o fazem por dois motivos. O primeiro é a qualidade absoluta de todos os atores envolvidos, que conseguem transmitir a humanidade por trás de cada um desses homens quase divinos. Mesmo a pequena participação de Isabella Rossellini como Irmã Agnes é fortuita e relembra da grande tradição do cinema italiano, país que sedia o filme e onde ele foi majoritariamente gravado, parte ainda nos estúdios da Cinecittá.


O segundo elemento que ajuda na construção de um grande filme é a fotografia impecável assinada por Stéphane Fontaine. Com desenhos de luz que parecem passar o recado do divino ao humano e planos milimetricamente pensados para refletir o interior dos personagens e até uma voz divina, o filme ganha ares ainda mais espetaculares pelo fato de estar sendo colocado belamente em tela.


Certamente não passará em branco na temporada de premiações e chocará muitos conservadores que irão ao cinema esperando algo bem diferente do que o que esperam - ainda bem para o cinema. Mesmo demorando um tanto para dar o seu recado, o filme alcança um ápice narrativo emocionante até para a menos religiosa das pessoas.


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