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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | TIFF | Flow

Flow (Letônia, 2024) 


Título Original: Straume

Direção: Gints Zilbalodis

Roteiro: Gints Zilbalodis e Matīss Kaža

Duração: 114 minutos


Quando existe uma boa história a ser contada a partir da imaginação de uma (ou no caso duas) pessoa(s), é impressionante o quanto ela pode ser global mesmo sem falas, nomes ou localizações específicas. E é assim que Flow se tornou uma obra sem falas sobre um gato solitário em um evento traumático que arrancou elogios de todo o público em suas sessões.


a família improvisada do filme flow

Sem nomes próprios para personagens, temos como dica de suas personalidades apenas a sua espécie. Rapidamente conhecemos o gato, que vive uma vida solitária e tranquila em um local desconhecido que assumimos que foi outrora ocupado por humanos, dadas as suas construções abandonadas. Percebemos os comportamentos clássicos da espécie em uma animação estilizada que não busca o realismo, mas sim captar a essência do comportamento dos personagens apresentados. Ali, também já conhecemos o cachorro e entendemos que esta é uma versão do mundo na qual os animais estão dominando o local e que já têm uma dinâmica de vida estabelecida. O gato é um animal solitário. O cão gosta de viver em grupo.


Só que a enchente que dá nome ao filme se inicia, e se torna impossível para qualquer animal que sobrevive ao evento traumático viver sozinho. Assim, com a ajuda da capivara, do pássaro e do lêmure, o gato passa a entender que a vida com convívio com outras pessoas pode ser importante e até essencial. Então, através desses personagens alegóricos e uma trama que envolve uma boa dose de fantasia apocalíptica, todos se veem em tela em suas jornadas pessoas de amadurecimento a partir de um dos arquétipos construídos.


A trama desenvolvida sem nenhuma fala ou escrita nos mostra a universalidade do tema da amizade, sendo um filme que poderia ser compreendido por qualquer audiência no mundo. Seu traço extremamente estilizado para os animais, mas que busca um realismo nos ambientes e em elementos da natureza como a água, fazem com que cada frame seja interessante e poético. A narrativa simples, mas pensada com muita delicadeza, nos lembra que é apenas utilizando o que cada ser tem de melhor que podemos passar pela vida com qualidade. Em uma espécie de ode aos introvertidos, ele nos lembra que de vez em quando será necessário respirarmos profundamente e seguirmos, encarando os nossos medos.


Sem precisar se descrever, ele também nos lembra da influência predatória dos humanos na natureza, e como talvez essa falta de sintonia dos outros seres tenha levado a existência a esse ponto climático. Sem precisar da mão pesada ao escrever e descrever que de vez em quando é utilizada para criar cenários distópicos nas telas, essa realidade é criada e compreendida com facilidade. Os traços de uma natureza complexa misturados à pureza dos sentimentos e comportamentos dos animais fazem com que se reflita profundamente sobre a nossa própria existência e as aventuras pelas quais nós passamos e as que ainda nos esperam.


Nos lembrando da simplicidade alinhada à profundidade, o filme toca profundamente o espectador. Nos faz querer ver mais filmes do diretor e conhecer a animação da Letônia, país que não é conhecido por sua indústria cinematográfica.


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