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Foto do escritorCarol Ballan

Crítica | TIFF | Os Enforcados

Os Enforcados (Brasil, 2024) 


Título Original: Os Enforcados

Direção: Fernando Coimbra

Roteiro: Fernando Coimbra

Elenco principal: Irandhir Santos, Leandra Leal, Pepê Rapazote, Irene Ravache, Stepan Nercessian e Augusto Madeira

Duração: 123 minutos


Todo bom brasileiro sabe que o ano só se inicia depois que acaba o carnaval. E, voltando a produzir em seu país de origem após um longo período trabalhando em sua carreira internacional, Fernando Coimbra vem retornando a brasilidade que lhe deu notoriedade com O Lobo Atrás da Porta (2013).


cena de almoço marcante no filme Os Enforcados

Assim como o diretor, o personagem principal do novo longa, Valerio (Irandhir Santos), está retornando ao Brasil com sua esposa Regina (Leandra Leal) após passar alguns anos vivendo no exterior. O motivo de sua volta é o falecimento do pai, um famoso bicheiro, e sua necessidade de assumir seu lugar nos negócios da família. Então, em uma sucessão de fatos que mistura Hamlet e A Comédia de Erros shakespearianos, o casal se envolve em uma briga muito maior do que seria capaz de resolver.


Assim como no filme anterior, Coimbra gosta de brincar com os limites e as zonas cinzas da existência humana, sem colocar nenhum de seus personagens especificamente no papel de herói ou vilão. O objetivo principal de todos parece ser apenas viver a sua vida, mas infelizmente há sempre um contratempo a caminho para tornar a existência mais complexa. Com toques de algo sobrenatural e até uma brincadeira com o sincretismo religioso brasileiro, entendemos como aquelas pessoas que outrora pareciam tão normais aos poucos são tomadas pela situação extrema.


O filme utiliza como principal locação a casa do casal, que está em uma reforma infinita. Neste local, há uma maestria entre as equipes de fotografia e arte para criar um ambiente no qual cada enquadramento tem uma história por si próprio. Mesmo nos ambientes externos, sempre se utilizam elementos visuais para ajudar a contar a história, desde os elementos carnavalescos até a carta de tarot que dá nome à obra em português.


Em sua primeira metade, a narrativa sofre um pouco para conseguir deslanchar, seja por ainda não se compreender exatamente qual é o tom do filme ou por conta de um ritmo mais desacelerado, mais focado no desenvolvimento que permitirá à sua segunda metade ser mais acelerado. Nas cenas em que realmente se cria tensão, Coimbra mostra a sua capacidade como diretor ao deixar o público na beira de seus assentos aguardando qual será o próximo passo no jogo de xadrez montado em tela. Dado o impacto desse andamento, a sua primeira metade parece ainda mais desajeitada em seu andamento.


É interessante que a trama aborda diversos assuntos de maneira que inicialmente parece superficial mas que vai tomando novos significados quanto mais se pensa neles. Desde a injúria racial que em primeiro momento parece deslocada até o crescente machismo presente na história, percebe-se que tudo é bem maquinado para criar uma narrativa que também aborda a toxicidade da masculinidade do Brasil contemporâneo. Desde um momento específico da obra, no qual Valerio começa a criar um discurso animado em meio à escola de samba, parece haver uma crescente no retrato da vida desses cidadãos de bem que são colocados em tela. E isso infelizmente ainda dialoga profundamente com a vida do brasileiro.


Em um lançamento que consegue misturar drama, comédia e ação, o filme é uma experiência inesperada, mas oportuna. E com uma data de estreia no Brasil bem próxima, de 21 de novembro de 2024.


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