Assassino Por Acaso (2023, EUA)
Título Original: Hit Man
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater e Glen Powell baseados no artigo de Skip Hollandsworth
Elenco principal: Glen Powell, Adria Arjona, Retta, Austin Amelio, Sanjay Rao
Distribuição brasileira: Diamond Films
Duração: 115 minutos
Por Carol Ballan:
Após assistir Rivais e agora Assassino Por Acaso, é impossível negar: o desejo está de volta às telas. Seja menos tradicional como no primeiro, ou simplesmente bem padrão e bem feito como no segundo, esta está sendo uma boa temporada para filmes embebidos em hormônios.
Bary, o personagem de Glen Powell, é apresentado de maneira hilariamente quadrada. Um professor de filosofia com gatos chamados Id e Ego, que comem sachê em uma tigela de cerâmica enquanto ele mesmo come de um pote de plástico. Ainda que não fique muito claro como ele começa a trabalhar com a polícia, entendemos que ali ele encontra um espaço onde pode soltar sua criatividade quando precisa fingir ser um assassino de aluguel para conseguir pegar potenciais clientes em flagrante. Quando Madison (Adria Arjona), uma mulher que parece estar em um relacionamento abusivo, aparece em sua vida para contratá-lo, ele consegue facilmente dissuadi-la. Mas seus caminhos se cruzam novamente e uma antiética paixão começa a florescer.
Em uma mistura de comédia romântica com filme policial, é a química do casal principal o fator mais decisivo para o sucesso do filme. Claro, estamos falando de duas pessoas absolutamente dentro de um padrão de beleza comercial, e é quase fácil juntar um casal tão atraente em tela. Mas Linklater consegue levar essa conexão a um nível superior, com o equilíbrio entre as inseguranças das personagens se complementando e gerando essas embrulhado. Sem permitir um momento de tédio ao espectador, somos embalados por um ritmo que consegue variar entre a comédia, romance e thriller de maneira orgânica. Por mais que seja um pouco procedural em sua fotografia e estrutura de roteiro, ele ainda mantém a capacidade de entreter. Cria-se uma camada extra de diversão para qualquer cinéfilo quando se adiciona tomadas de Powell caracterizado como matadores de diversos filmes, o que é um divertido aceno para a plateia.
Existe uma tentativa de discutir a moralidade humana a partir do contraste entre o trabalho de Bary como professor e como matador, o que é ainda reforçado pelas cenas em que ele está como réu no tribunal. Apesar de isso ser bem sucedido de maneira geral, a obra tenta tratar essa análise de forma muito mais séria do que o que realmente acontece. Felizmente, o próprio filme acaba não se levando a sério demais, acabando essa discussão com uma brincadeira entre gatos e cães.
Longe de ser o tipo de filme capaz de mudar uma vida, como já foram outras obras do mesmo diretor, este longa-metragem é capaz de mudar um dia, acabando com qualquer tipo de mau humor que se tenha entrado na sala de cinema. Quase não se vê a passagem das quase duas horas, e a obra acaba com o público querendo ver mais do casal perfeitamente disfuncional que nos é apresentado.
por Jean Werneck:
Em comédia romântica baseada em eventos reais, Glenn Powell e Adria Arjona divertem o público com o crime do amor.
O pacato professor universitário Gary Johnson (Glenn Powell) colabora com a polícia nas horas vagas se disfarçando de assassino profissional para pegar contratantes do serviço em flagrante. Ao se deparar com a atraente Madison (Adria Arjona) em um desses disfarces, ele se envolve em uma enrascada e perde a linha entre interpretar e viver seus personagens.
Em sua vasta e variada filmografia até aqui, Richard Linklater alternou entre dramas melancólicos - como a trilogia do Antes e Boyhood: Da Infância à Juventude - e comédias marcantes - como Escola de Rock e Cadê Você, Bernadette?. Assassino Por Acaso, novo projeto do diretor, se encaixa na segunda categoria e reitera a maestria com que Linklater pode transformar o que muitos considerariam como roteiro bobo em entretenimento de altíssima qualidade da indústria cinematográfica norte-americana.
A começar pela adaptação para as telonas, Linklater se juntou a Glenn Powell - que aqui, além de ator, trabalha pela primeira vez como roteirista - para transformar a história real de um artigo publicado no jornal Texas Monthly, em 2001, em uma ficção irreverente que não se compromete em seguir acirradamente os fatos, por mais que se baseie neles para construir sua narrativa. Essa por si só foi uma escolha ousada da produção. Isso porque vai na contramão de clássicos como Bonnie e Clyde e Assassinos Por Natureza, que também abordam casos verídicos a partir do subgênero dos romances policiais, mas sob uma perspectiva moralista e repreensiva. De outro modo, Assassino Por Acaso se aproveita do desfecho mais tradicional e correto de sua história real para utilizar da liberdade criativa e surpreender o espectador com reviravoltas mirabolantes, seguindo um olhar escapista e cômico.
A parceria entre o romance, o suspense e a comédia flui espontaneamente graças à química do elenco. O destaque, é claro, vai para Powell e Adria Arjona, que têm uma relação sedutora e fatal, contudo seria uma afronta não citar também a performance de Austin Amelio como policial corrupto. A conexão dos atores com seus personagens - principalmente de Powell, que flutua entre várias personas com um tom satírico - e uns com os outros traz uma agilidade para os diálogos essencial para o ritmo do filme. E, não, não estamos falando aqui de uma comédia frenética que a cada três frases lança uma piada implorando a risada do público. Assassino Por Acaso sabe intercalar entre os momentos mais reflexivos e os mais descontraídos e guia as emoções para um desfecho inesperado, o que se dá em partes pela maturidade de Linklater como realizador que tem precisão no que está fazendo e o efeito que deseja alcançar em cena.
Houve uma leve falta de desenvolvimento nas teorias sobre emulação de personalidade do ser humano que o filme propõe a partir das cenas de Gary em sala de aula, na qual discute diferentes vertentes teóricas que explicam parte do comportamento que ele tem em ação com a polícia. Apesar disso, saímos da sala de cinema nos sentindo recompensados por uma obra com pegada comercial e regada de clichês, conseguindo se sobressair em meio a tantos produtos medianos e padronizados dessa indústria.
Verbalizando meu sentimento interior quando os créditos subiram, a menina da fileira de trás na sessão disse: nossa, é bem melhor do que eu esperava. E, de fato, como é bom ser surpreendido positivamente com Assassino Por Acaso.
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