Rivais (2024, EUA)
Título Original: Challengers
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: Justin Kuritzkes
Elenco principal: Zendaya, Mike Faist, Josh O’Connor, A.J. Lister, Nada Despotovich
Distribuição brasileira: Warner Bros
Duração: 131 minutos
Texto por: Carol Ballan
Se existe um diretor que consegue demonstrar em tela os anseios e intensidade da juventude, este é Luca Guadagnino. Principalmente a partir de Me Chame Pelo Seu Nome (2017), o diretor mostrou a sua capacidade de lidar com temas profundos de maneira afetiva e responsável. Mas em Rivais o público é levado de volta para a famosa cena do pêssego, e a sexualidade se torna parte essencial da narrativa.
Quando a dupla de tênis e amigos de longa data Art (Mike Faist) e Patrick Zweig (Josh O’Connor) conhece a estrela em ascensão no esporte Tashi (Zendaya), inicia-se uma competição eterna pelo afeto da garota. Só que essa história nos é apresentada de maneira nãoo-linear, começando pelo jogo final entre Art e Patrick já adultos, e realizando flashbacks para explicar os games e sets que estão ocorrendo a partir de suas lembranças.
No entanto, mesmo que essa ideia seja muito criativa, muitas vezes ela acaba confundindo o espectador em relação à ordem do que está acontecendo em tela, principalmente em relação aos flashbacks. Ele acaba cumprindo com a necessidade atual em assistir filmes em que se tem uma quantidade gigantesca de inversões da trama de uma maneira mais natural através da lógica do jogo, mas mesmo assim se torna confuso com o passar das mais de duas horas. Ainda que seja o primeiro roteiro de Justin Kuritzkes, ter uma linha do tempo melhor definida permitiria uma maior compreensão dos fatos e um mergulho maior nas intensas emoções que a obra traz.
A atuação dos três protagonistas sob direção de Guadagnino é avassaladora, não se limitando às cenas mais sensuais, mas se estendendo aos momentos de dúvida e de tensão. Quanto mais próximos chegamos do final percebe-se a maior exigência das atuações, e entre o sorriso torto de O’Connor e a tensão crescente de Zendaya, o filme consegue o seu objetivo de nos envolver na história de “jovens com uma raquete na mão batendo na bola”. É emocionante o momento final (fique tranquilo, aqui não há spoilers) em que se compreende que estamos vendo mesmo um jogo de tênis.
Como um diretor já conceituado, é claro que toda a equipe ao seu redor funciona para trazer mais camadas para a obra. Alguns destaques são a trilha sonora composta por Trent Razor e Atticus Ross, que funciona tanto como transição entre o tempo real e os flashbacks; e os figurinos de J.W. Anderson são parte essencial do desenvolvimento das personagens até a sua fase adulta. É apenas na direção de fotografia, assinada por Sayombhu Mukdeeprom, que se adquire um caráter mais experimental, com cenas se passando no ponto de vista de atores e até da bola de tênis. Dado o caráter bastante clássico do resto da obra, essas cenas parecem deslocadas e acabam afastando o espectador da obra.
O resultado é um bom filme. Longe do potencial máximo do diretor, mas que cumpre corretamente tudo o que se propõe.
Texto por: Jean Werneck
Na quadra de tênis erótica de Luca Guadagnino, o desejo na vitória é ter Zendaya como esposa-troféu.
Doze anos depois de um triângulo amoroso na faculdade, Tashi (Zendaya) e Art (Mike Faist), agora casados, reencontram Patrick (Josh O’Connor), ex-namorado dela e ex-melhor amigo dele, em um torneio de tênis. Quando Patrick e Art se enfrentam na final do medíocre evento Challenger, a rivalidade é levada ao limite para ver quem sai ganhando. Depois de experimentar a sensualidade platônica em Me Chame Pelo Seu Nome, o amadurecimento sexual em We Are Who We Are e a fome do desejo em Até os Ossos, Luca Guadagnino retorna ao cinema com Rivais, abordando a eroticidade do perfeccionismo no desempenho físico.
Quem se importa com o teor da relação de três tenistas universitários de Stanford e as intrigas e competições entre eles? Essa é a pergunta que você faz depois de ler a sinopse de Rivais. E a resposta é: qualquer pessoa que se sentar na poltrona do cinema e assistir aos primeiros vinte minutos do filme. Com um primeiro ato irresistivelmente excitante - em todos os sentidos -, a direção provocante de Guadagnino e o roteiro mordaz de Justin Kuritzkes são capazes de nos inserir intensamente no que é o microcosmo do tesão entre Tashi, Art e Patrick. A premissa nos faz questionar se Kuritzkes teve a ideia profana do longa enquanto assistia a uma partida de tênis com uma ereção involuntária ou se pensava no quanto raquetes se parecem com objetos fálicos durante um orgasmo. Seja como for, as analogias entre o esporte e a libido formaram aliados perfeitos para o time da sétima arte. Essa inventividade somada à câmera libidinosa do cineasta - que torna o ato de assistir a obra no cinema quase obsceno - e a química violentamente fluida entre o elenco tornam Rivais um formidável exemplar do subgênero da comédia erótica.
Ademais, esse frenesi de sensações não está só relacionado com o conteúdo, mas essencialmente com o formalismo do filme. Acompanhamos a final do evento Challenger sobre todos os ângulos possíveis, indo desde o plano subjetivo, que nos coloca na perspectiva dos competidores e da própria bola na partida, até planos gerais, filmando a quadra completa de cima e até mesmo por baixo. Essas angulações mais expansivas ou restritas dos movimentos de câmera são complementadas com a montagem, que ignora a linearidade cronológica da história ao alternar acontecimentos do passado e do presente no mesmo ritmo acelerado em que a bola vai de um lado do campo ao outro. A trilha sonora, por sua vez, parece ter saído da playlist de uma casa de swing - o que cai como uma luva para a temperatura lasciva -, enquanto a fotografia satura os tons quentes do figurino e a elegância do suor nas roupas de marca e condicionamento físico tentador dos personagens.
Portanto, ao compor uma experiência sensorial atraente para o espectador, Rivais representa essa dualidade da paixão e da raiva como atletas que jogam juntos, mas de lados opostos. A linha tênue entre esses dois contrastantes sentimentos é a tensionada rede que divide a quadra no meio e é representada bravamente por Tashi na amizade entre Art e Patrick. A difusão emocional do que eles representam uns para os outros encontra escape no match point inconclusivo do desfecho clichê. O verdadeiro vitorioso de Rivais é o espectador, que sai gargalhando da sessão sem a obrigação de ser juiz desse trio de perdedores.
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