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Carol e Jean

Críticas a Dois | Saudosa Maloca

Saudosa Maloca (Pedro Serrano, 2023, Brasil


Nome Original: Saudosa Maloca

Roteiro: Rubens Marinelli, Guilherme Quintella

Elenco principal: Paulo Miklos, Gero Camilo, Gustavo Machado, Sidney Santiago, Leilah Moreno

Distribuição brasileira: Elo Studios

Duração: 108 minutos


Texto por: Carol Ballan


Ao invés de trabalhar com a já sobrecarregada cinebiografia musical, o que Saudosa Maloca faz é um exercício maior da criatividade para falar sobre um período específico da cidade de São Paulo através de um dos seus maiores sambistas, Adoniran Barbosa. Ele não se atém aos fatos da vida do cantor, e nem é essa sua proposta. O que ele mostra é o clima do bairro da Bela Vista nos anos 1950, em uma cidade em um período de mudanças, através das peripécias narradas nos sambas de Adoniran.

Ele trabalha com duas linhas narrativas, amarradas pelo bar Bléqui Tai. Em uma, vemos Adoniran (Paulo Miklos) jovem morando em uma maloca com Mato Grosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado), e em outra ele já envelhecido contando os acontecimentos da época para o garçom Cícero (Sidney Santiago). Com alguns elementos que transpassam esse passar do tempo, cria-se um plano de fundo que mostra não apenas as mudanças, mas também as permanências da cidade, como as desapropriações de moradia das populações mais pobres e vulneráveis.


A atuação de Miklos, principalmente no período mais velho, é um dos elementos-chave do filme, mas é necessário também elogiar a dinâmica entre Camilo e Machado, que juntos apresentam as cenas mais divertidas do filme em uma dinâmica de comédia pastelão. Todo o elenco de apoio também funciona bem no longa, mas existe uma pressa do roteiro em passar por todas as músicas mais famosas do cantor, e com isso o tempo para eles se desenvolverem é subitamente cortado.


Ainda que ele não tente ser uma cinebiografia, ele acaba sofrendo dos mesmos males que os filmes do gênero mais recentes: dá-se pouca oportunidade para desenvolver a narrativa ou os personagens, tentando chegar rapidamente às partes mais conhecidas pelo público. Ao mesmo tempo, se um espectador desavisado assiste sem conhecer o trabalho do compositor, o filme perde todo o sentido dado que toda a sua narrativa é voltada para os sambas famosos.


Há uma interessante adaptação histórica quando pensamos na cidade em 1950, ainda que o mostrado em tela pareça uma visão higienizada de como era a vida em São Paulo. Os cortiços, como a maloca em que os personagens vivem, costumavam ser muito mais cheios e sujos, por exemplo, mas a estética escolhida funciona melhor com a narrativa de comédia. Pode-se pensar também no reforço a alguns estereótipos como o do homem que foge do trabalho, mas isso faz sentido quando consideramos que estamos tratando de uma certa adaptação de Adoniran, muito crítico ao sistema capitalista em suas letras.


O resultado final é um filme híbrido, que não se assume totalmente como narrativa de homenagem musical, mas também não funciona como obra sem considerar esse contexto. Ele faz sucesso com quem conhece o samba paulistano, mas não possui muitos atrativos para outros públicos.


Texto por: Jean Werneck



Apesar de uma bela ode ao samba, o longa brasileiro performa malandragem ao invés de sê-la. 


Voltando ao mesmo bar que costumava frequentar na juventude, Adoniran (Paulo Miklos) relembra as memórias que tem daquela São Paulo em uma conversa com o jovem garçom Cícero (Sidney Santiago). Entre a saudade dos amigos Joca (Gustavo Machado) e Mato Grosso (Gero Camilo), ele relata em uma crônica como a maloca foi engolida pelo progresso da metrópole. É evidente que Pedro Serrano é fascinado pelo sambista Adoniran Barbosa e sua contribuição musical para o gênero. Além de Saudosa Maloca, que adapta uma de suas famosas composições, o diretor também realizou o curta Dá Licença de Contar e o documentário Adoniran - Meu Nome é João Rubinato em homenagem a carreira do músico. 

Entre a costura de personagens e situações descritas nas músicas de Adoniran, Saudosa Maloca busca captar a essência da malandragem do trio de amigos para retratar a São Paulo que é impressa em tantas expressões artísticas da época, contudo perde o timing do humor que deveria envolver o espectador. Há um tom de encenação nas piadas e situações cômicas da narrativa, levando a uma constante sensação de que a comédia é uma esquete roteirizada. O estilo de esquetes e humor corporal feito no filme - inclusive com uma linda referência a Em Busca do Ouro, uma obra-prima de Charles Chaplin - não é uma proposta ruim, o problema é que elas não têm graça. Lidar com a comédia pastelão é um desafio porque existe uma linha tênue entre o charme e o constrangimento. Em poucos momentos o longa alcança a essência do subgênero e, particularmente, me tirou pouquíssima risada - muito menos gargalhadas. 


Ademais, a parte técnica tem pouco a contribuir para potencializar Saudosa Maloca como um todo. Paulo Miklos e Gero Camilo são conhecidos no cinema nacional por serem bons comediantes, entretanto o maneirismo de suas performances como Adoniran e Mato Grosso, respectivamente, quebra o clima com as gírias acentuadas. Junto desse tom novelesco, temos a direção de arte semelhante a uma produção de época da TV Globo - o que não é necessariamente ruim - aprofundando-se mais de uma linguagem televisiva das 18h da tarde do que de uma linguagem cinematográfica com significado para além do que está óbvio em tela. Entre esses dois elementos, a montagem atua de modo convencional ao intercalar o presente com os flashbacks da história que está sendo contada. É uma construção narrativa e técnica inteiramente mediana e resulta em uma experiência na média também. 


Portanto, Saudosa Maloca pode conquistar os fãs de Adoniran Barbosa ou o nostálgico público cativo da comédia pastelão, mas não se consolida para além disso. Tem o samba no pé, falta conquistar o sorriso no nosso rosto. 



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