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Foto do escritorCarol Ballan

Duna, de Denis Villeneuve (2021)


O diretor canadense Denis Villeneuve tem se tornado um grande destaque da ficção científica desde o premiado A Chegada, no qual conseguiu traduzir visualmente conceitos de linguagem extremamente complexos e cativou o público do gênero. Depois, ele deu novos ares a uma antiga franquia com Blade Runner: 2049, e mais recentemente mostrou sua maestria com a adaptação do clássico da literatura Duna.

Esta obra não é conhecida por seu bom histórico de adaptações. Nos anos 1970 o chileno Alejandro Jodorowsky se empenhou em criar uma adaptação, mas devido aos altíssimos orçamentos, nunca conseguiu levar a produção ao seu fim. Em 1984, David Lynch fez a sua tentativa em um longa que não foi apenas um fracasso comercial, mas mais significativamente um fracasso pessoal, uma vez que o mesmo admite em entrevistas que não chegou ao resultado esperado ao realizá-la. Por fim, houve uma série para o canal SyFy com pouco valor de produção e críticas extremamente negativas.

Assim, quando Villeneuve foi anunciado como diretor, as esperanças para os fãs do gênero se reanimaram, dada a necessidade de uma habilidade tanto para os detalhes visuais, dada a complexidade do universo inventado pelo escritor Frank Herbert, quanto para criar uma teia política compreensível para espectadores que se deparam pela primeira vez com o universo. Ademais, a expressão de um heroísmo em moldes tão puros, algo que acabou sendo explorado por franquias como Star Wars, poderia facilmente cair no clichê.

Felizmente, um dos elementos que faz diferença neste sentido é o elenco. A história parece simples: o jovem talentoso Paul Atreides se vê em um novo planeta quando seu pai, duque de uma famosa família, é enviado até lá pelo Imperador. Acerta-se ao trazer Zendaya e Javier Bardem, pessoas não-brancas, para representar os Fremen, povo do deserto, e a escolha de Timothée Chalamet para o papel principal que permite a exclusão de diversos clichês, uma vez que ele consegue equilibrar a seriedade com a delicadeza, e já no primeiro longa demonstra o crescimento do personagem.

Soma-se a isso a qualidade visual do longa, que mistura as referências ao islamismo com a tecnologia mais fundida à ecologia, em uma mistura entre tradição e inovação presente em diversos momentos e que é um dos principais embates filosóficos da narrativa. Merece destaque a fotografia incrível, que consegue trabalhar o visual desértico e solar com as imagens quase psicotrópicas das visões do protagonista. O deleite é tal que torna-se aceitável a apresentação de diversos elementos essenciais à narrativa.

Neste mesmo sentido o som é um elemento extremamente bem pensado em cada um dos ambientes do filme, e assisti-lo em uma boa qualidade faz diferença. A trilha sonora assinada por Hans Zimmer, apaixonado pelos livros, auxilia nessa construção, apesar de às vezes se tornar excessivamente heróica.

Há alguns problemas mais óbvios com o filme, como o uso de alguns Deus ex Machina em relação ao poder de Paul e ao seu final extremamente insatisfatório, que faz com que um segundo filme seja necessário para a total compreensão do primeiro - sim, são diversos livros, mas isso não diminui a insatisfação com o término do filme. Alguns conceitos mais complexos da ficção científica também são pouco trabalhados, como a construção do sistema feudal do império, o que pode dificultar o entendimento do público geral.

No entanto, o filme consegue o essencial: apresentar adequadamente um universo riquíssimo e com personagens excelentes. E deixar essa espectadora que vos escreve extremamente ansiosa para descobrir o que o diretor fará no filme seguinte, já confirmado pela produtora.



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