Jeit (2024, Argentina e Alemanha)
Título original: Jeit
Direção: Carlos Ángel Luppi e Daniel Schäfer
Roteiro: Carlos Ángel Luppi e Daniel Schäfer
Elenco: Clara Baldinu, Juan Carosio, Norberto Caruso, Sergio Ferreiro, Valentín Gatica e Ernestina Gatti
Pensando na questão de um cyberpunk argentino, Jeit não deixa a desejar. Com uma trama metafísica de libertação de seu próprio ódio, ele consegue utilizar o melhor dessa estética para falar sobre o gênero que envolve a alta tecnologia para pessoas com uma vida miserável. Ainda que não haja uma construção de universo tão detalhada, algo comum aos gêneros da ficção científica, o filme compensa isso com a utilização de técnicas de filmagem e de montagem experimental, que também conversam diretamente com o gênero e sua relação com a tecnologia.
Talvez sua maior dificuldade seja em criar uma experiência compreensível para os espectadores, para além da auto referência e homenagem ao gênero. Com muitas coisas acontecendo na tela por conta da montagem e levando a obra para esse caminho de uma narrativa menos tradicional, parece ser impossível absorver tudo o que a obra tenta passar assistindo o filme uma única vez. Isso não é um problema para a obra, mas pensando de forma prática em relação a um filme de público reduzido, este talvez seja um erro de produção que não auxilia o longa.
Em Algum Lugar Silencioso (2023, EUA)
Título original: Somewhere Quiet
Direção: Olivia West Lloyd
Roteiro: Olivia West Lloyd
Elenco: Marin Ireland, Micheál Neeson, Jennifer Kim, Kentucker Audley, Paula Loud e Jan Devereaux
Em mais um terror genérico em forma, utilizando toda a técnica mais tradicional de narrativa e de edição para emular o realismo, Em Algum Lugar Silencioso parece uma mistura de diversas referências que nem sempre funcionam em tela.
A ideia de criar um filme de terror ligado ao stress pós-traumático é capciosa, pensando que a protagonista acabou de sair de um sequestro e está paranoica em relação ao ocorrido. Isso leva à segunda parte da situação: a casa isolada, apenas com o marido, onde ela poderia finalmente relaxar. Mas se esse isolamento tem um lado positivo da tranquilidade, ele também trás o sentimento de reclusão e afastamento da sua vida cotidiana - ou seja, mais um prato cheio para o terror.
Ele consegue manter a tensão e causar aflição em quem o assiste, mas em determinados momentos ele parece se preocupar em colocar pautas sociais na obra sem pensar se elas fazem sentido. Há momentos em que isso é muito bem colocado, como quando se trata da diferença de privilégios entre os jovens que cresceram com dinheiro e a protagonista que não em relação a serem responsáveis pelos seus atos. Em outros, no entanto, um discurso racial muito importante aparece esvaziado, como se fosse algo necessário de estar em tela, mas que não ocorre de maneira natural. Parece haver uma inspiração em Corra!, mas sem a dinâmica racial extraordinária criada por Jordan Peele.
Então, com uma mistura de referências e algumas boas ideias originais, o filme é capaz de entreter e causar algumas reflexões, ainda que não se destaque pela inspiração.
Oito Olhos (2023, EUA)
Título original: Eight Eyes
Direção: Austin Jennings
Roteiro: Matthew Frink e Austin Jennings
Elenco: Krsto Nickcevic, Emily Sweet, Bradford Thomas e Bruno Veljanovski
Começando como um filme de viagem que remete ao apavorante O Albergue, Oito Olhos já mostra desde o primeiro momento que tem influências de diversos filmes do gênero. Com a autocrítica de turistas estadunidenses que viajam sem compreender a cultura do local que estão visitando, ele atualiza diversos clichês do gênero enquanto cria novas imagens inesquecíveis.
A estética é um fator essencial da obra, tanto pela questão das imagens que são captadas pela câmera de filme presente no filme quanto por ela sofrer uma mudança do realismo do início até abraçar o fantástico enquanto a narrativa caminha em direção ao caos. Essa progressão é muito bem orquestrada, começando com detalhes que parecem estranhos nas primeiras cenas chegando a um caminho de matanças e gore que não se imaginaria ser possível.
Mesmo que em algumas vezes ele force a quebra dos estereótipos, fica claro que ele não pretende em momento algum reforçá-los, apenas subvertê-los. Assim, situações que são incômodas em tela precisam ser processadas após o final do longa-metragem para que se compreenda qual o seu real sentido dentro da narrativa.
Com muito sangue, desmembramentos e até uma música macabra, este foi um excelente filme para encerrar o festival.
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