Quando um festival de cinema faz a curadoria de seus filmes de apresentação e encerramento diversos elementos são levados em conta, como a sua capacidade de atrair público, sua qualidade técnica e o destaque que se deseja para determinado assunto. Assim, quando vemos que o festival É Tudo Verdade pelo segundo ano consecutivo escolhe um filme com temática de proteção ao território indígena, percebemos o quanto o assunto é latente no nosso país.
O Território, longa-metragem dirigido por Alex Pritz em uma co-produção entre Brasil e Dinamarca, fala sobre a reserva na qual reside a tribo Uru-Eu-Wau-Wau e aos frequentes ataques que eles sofrem na disputa territorial com madeireiros e latifundiários - deixando clara a importância da defesa das reservas diante a falta de importância ao assunto dada pelo atual governo. Ele expõe, através da própria tribo e de uma funcionária da FUNAI, as dificuldades sofridas e como a situação tem se agravado com as políticas públicas que não punem culpados pelos crimes contra essa parcela da população.
Um dos êxitos do documentário está em algo que tem muito pouco controle do documentarista, mas que foi incluído de maneira muito pertinente na narrativa, que é exatamente a sequência de fatos ocorrida no período, com a morte de um grande defensor da tribo e a consequente criação do grupo de defesa entre indígenas. Mostrar também como a tecnologia ajuda nesse processo e o quanto dar os meios (no caso, câmeras) para que a tribo possa contar a sua história a partir da sua própria voz faz com que os espectadores percebam o processo do cinema como uma ferramenta que pode dar voz a quem não é ouvido e descolonizar o olhar de quem assiste.
Considerando que o filme se mostra declaradamente ativista pela defesa da floresta amazônica através do respeito às reservas indígenas, a fotografia é outro elemento que sensibiliza os espectadores. Quando mostradas cenas da fauna e flora nativas, por exemplo, é realizado com tons vibrantes e sempre deixando explícita a quantidade de verde encontrada no local. Isso se estende à maioria das cenas filmadas junto com a tribo, o que se opõe às cenas dos desmatadores, mostrados com destaque para suas pontudas serras e com fundos alarmantemente amarelados.
Mostrar a mentalidade dos diversos lados envolvidos na questão também é um acerto, pois percebe-se que o problema é mais estrutural do que simplesmente baseado em conflitos específicos em apenas algumas áreas. No entanto, por mostrar algumas cenas bastante tocantes, é muito difícil não sensibilizar também o espectador envolvido pela narrativa.
O documentário é extremamente pertinente ao nosso momento político-social, e a coprodução com um país estrangeiro revela ainda que esse é um assunto que merece e recebe destaque internacional. Espera-se que ele ajude a demonstrar a latência e relevância do desmatamento das matas nativas e, em um país dividido pelas eleições no final do ano, possa auxiliar a população a fazer melhores escolhas.
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