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Foto do escritorCarol Ballan

Quando falta o ar (Ana Petta e Helena Petta, 2021)

Atenção: este filme possui gatilhos emocionais principalmente para quem está lidando com o luto após a pandemia de Covid-19.


Quando pensamos em filmes realizados durante a pandemia de Covid-19, percebemos que há algumas produções pontuais que retratam os dramas que envolvem a doença, mas muito do que foi produzido durante a crise e após a flexibilização de medidas de prevenção simplesmente ignoram o período, não lidando com as questões inerentes a ele. Neste sentido, a obra Quando falta o ar, de Ana Petta e Helena Petta, se coloca na contramão e explora o ocorrido a partir de um viés específico e complexo: o dos profissionais de saúde.


Com a declarada atitude de defesa do Sistema Único de Saúde, que sofreu diversos ataques e tentativas de desmantelamento pelo governo negacionista do atual presidente,Jair Bolsonaro, a obra busca os humanos responsáveis por diversas funções do sistema para aproximar os seus espectadores a partir de laços de empatia. Assim, acompanhamos algumas pessoas em seu trabalho diário: uma médica lidando com pacientes entubados, enfermeiras, agentes de saúde que passam de casa em casa para visitar seus pacientes, coveiros, membros da equipe de limpeza de hospital e uma médica que atua dentro do sistema penitenciário. Aos poucos, conseguimos mergulhar em todas as frentes de atuação que englobam o SUS durante a pandemia.


É interessante que o documentário parece surgir em um momento muito específico da história recente brasileira, quando em outubro de 2020 se debatia se uma medida postada pelo presidente Bolsonaro daria margem a tentativas de privatização do SUS. Felizmente, em 2022, essa tentativa parece ter falhado, mas o trabalho de documentação da saúde pública brasileira continua sendo extremamente pertinente, principalmente em relação às dificuldades sofridas pelos profissionais que estiveram na linha de frente do combate à pandemia. O trabalho documental é muito significativo em mostrar a amplitude de medidas necessárias em um país de território extenso como o Brasil, assim como as necessidades específicas de cada região, como o caso da cena de abertura, de médicos atravessando rios para chegar a comunidades específicas.


Essa amplitude também é mostrada através da escolha de profissionais realizada, que permite ao espectador se conectar empaticamente com eles, desde a médica que escolhe trabalhar no SUS por ter tido a sua faculdade paga através do dinheiro público até a médica indígena que explica sobre a importância de suas crenças para realizar o seu trabalho. Aos poucos, percebemos a humanidade envolvida em cada etapa do cuidado com os pacientes, e se torna impossível ignorar a relevância da existência de tal sistema público e gratuito de saúde.


Se o filme consegue criar esses laços empáticos de maneira muito eficiente, por outro lado ele apresenta a realidade de maneira tão clara que para quem, como eu, perdeu algum familiar por Covid-19, pode ser difícil de assistir. Exatamente pela escolha de mostrar o ocorrido através dos profissionais de saúde, a obra precisa lidar com certa praticidade que o trabalho da área exige - tornando-o um possível gatilho para espectadores mais sensíveis e em processo de luto.


Ainda que o possível fato causador do longa felizmente não tenha se concretizado, ele se torna um importante registro da resistência dos brasileiros às tentativas de negar a realidade da pandemia. Mais uma prova do ditado popular que diz: “o melhor do Brasil são os brasileiros”.

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