Midnight Madness
Como é uma tradição do TIFF, uma sessão à meia-noite acontece para os filmes que apresentam propostas interessantes no cinema de ação, terror, choque ou fantasia. Consegui comparecer a algumas das sessões e queria trazer alguns insights sobre os filmes.
A Substância (Reino Unido e França, 2024)
Título Original: The Substance
Direção: Coralie Fargeat
Roteiro: Coralie Fargeat
Elenco principal: Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, Hugo Diego Garcia, Alexandra Barton e Oscar Lesage
Duração: 141 minutos
Com a proposta radical de criar uma versão mais nova e mais perfeita de você mesmo, a substância que dá título ao filme parece algo criado para uma propaganda para clínica de dermatologista. Mas muito mais do que isso, o filme cria uma análise feroz do papel da mulher na indústria do entretenimento na medida em que ela envelhece.
Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma antiga atriz que tem um programa de fitness na televisão e que se vê sendo despedida por ter chegado aos 50 anos. Quando ela toma a substância e se transforma em Sue (Margaret Qualley), ela passa a poder aproveitar novamente a sua aparência bela - mas ela não compreende o tamanho das consequências de não seguir as regras do processo proposto. Então a obra que já funcionava na tônica de body horror devido às mazelas físicas dessa transformação acaba também se tornando um horror existencial sobre o que é ser uma mulher que existe no mundo.
Aproveitando uma estética colorida e divertida e mesclando-a com toneladas de sangue e cenas aflitivas, o resultado é uma obra que consegue aterrorizar e divertir na mesma medida.
The Gesuidouz (EUA, 2024)
Título Original: The Gesuidouz
Direção: Kenichi Ugana
Roteiro: Kenichi Ugana
Elenco principal: Yûya Endô, Leo Iamamura, Kutaka Kyan, Natsuko e Rocko Zevenbergen
Duração: 93 minutos
O título peculiar do filme se dá por conta da banda punk que ele retrata em um documentário falso que os acompanha quando precisam sair de Tokyo para viver em uma fazenda no interior do Japão para ganhar algum dinheiro. Com uma maneira peculiar de quebrar as regras tanto do país quanto de sua cinematografia, a obra fala sobre juventude e processo criativo de uma maneira que poucos gaijin teriam acesso de outra forma.
Com esse humor excêntrico de zoar a própria banda fictícia que cria, o resultado é uma obra bem humorada que consegue utilizar seu texto para fazer apontamentos realmente interessantes pela mistura da tradição japonesa com a atitude britânica tendo consequências desde os figurinos até a cacofonia das letras que misturam personagens clássicos do horror com uma performance perfeitamente nipônica. Algumas cenas, como as do processo de escrita do novo álbum, criam uma memória profunda no espectador tanto por sua ideia como pela maneira dinâmica na qual a cena é filmada e editada.
Levando os espectadores por uma louca jornada pela sua própria identidade, a banda reforça a necessidade de uma base sólida para se poder conquistar o mundo - ou pelo menos a parte do mundo que realmente interessa.
Ick (EUA, 2024)
Título Original: Ick
Direção: Joseph Kahn
Roteiro: Joseph Kahn, Dan Koontz e Samuel Laskey
Elenco principal: Mena Suvari, Brandon Routh, Malina Pauli Weissman, Mariann Gavelo, Taia Sophia, April Clark e Cory Hart
Duração: 87 minutos
Sempre que se pensa em um filme de invasão alienígena, a primeira coisa que vem à mente é pensar se humanos e alienígenas serão capazes ou não de chegar a um acordo sobre o planeta Terra, certo? De acordo com Ick, isso pode estar errado. Se os alienígenas, mesmo que tiverem uma aparência estranha, não aparecerem atacando, é possível que a humanidade reaja de maneira completamente passiva a eles. E aí, quando todos se acostumam a isso, a verdadeira ameaça se inicia.
Em homenagem aos filmes de fantasia clássicos, acompanhamos Hank (Brandon Routh), o rapaz que poderia ter tido a vida americana perfeita se não tivesse tido um acidente incapacitante no esporte. Então, junto ao seu pop punk dos anos 2000, ele passa a ser professor da pequena cidade onde nasceu. Mas exatamente essa cidade está sendo atacada, e ele precisa vencer os seus medos para sair disso com vida.
Parece uma piada de coach, mas a obra alcança novas alturas quando pensamos na quantidade de gosma, sangue e músicas que você vai reconhecer que estão na trilha sonora. Então, com uma alta estilização de formato e uma edição tão rápida que pode te deixar tonto, o filme parece um clássico da sessão da tarde a partir do momento em que se compreende seu eixo principal - mas também não avança muito nem em estilo nem em narrativa para se elevar muito acima disso.
It Doesn’t Get Any Better Than This (EUA, 2023)
Título Original: It Doesn’t Get Any Better Than This
Direção: Rachel Kempf e Nick Toti
Roteiro: Christian, Rachel Kempf e Nick Toti
Elenco principal: Christian, Rachel Kempf e Nick Toti
Duração: 83 minutos
Mais um que entra na categoria de que quanto menos se souber sobre o filme na hora em que for assisti-lo, melhor. E esse ainda é um caso especial porque os diretores afirmam que não disponibilizarão o longa em nenhum serviço de streaming, então só será possível vê-lo em cinemas e festivais. Quanto menos se esperar, mais divertida será a experiência.
O filme brinca com o subgênero found footage ao contar a história do casal de diretores que comprou uma casa antiga e começou a gravar seu processo de reforma para um filme de terror que desejavam gravar. Misturando parte da realidade esquisita da casa com muitos momentos nos quais claramente estão ficcionalizando a história, o resultado é um híbrido que vai te dar um belo susto, mas principalmente vai te fazer rir.
Ainda que a falta de um planejamento sobre o rumo do filme seja bastante claro, o trabalho ainda é notável ao se considerar que, como base, eles tinham apenas vídeos de si mesmos explorando uma casa antiga que veio com algumas surpresas. Parecendo um filme que passaria nas sessões dedicadas aos filmes “chapados”, fiquei curiosa para ver outras obras dos diretores porque com virtualmente nenhum dinheiro eles ainda conseguiram criar um filme que dá bons sustos.
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