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Foto do escritorCarol Ballan

É Tudo Verdade - lançamentos de 06/04

Rubens Gerchman: O Rei do Mau Gosto

Recentemente houve um retorno aos documentários passados durante o período da ditadura brasileira dada a crescente da extrema direita no país, e Rubens Gerchman: O Rei do mau gosto não foge à qualidade de outras obras realizadas sobre o período. Desta vez, o assunto é abordado por um viés que gerações mais recentes pouco conhecem da produção de arte brasileira, a arte plástica.


Utilizando como subtítulo do filme a obra de 1966 do artista, o documentário aproveita a sua trajetória para falar sobre o cenário cultural do Brasil nos anos 1960, desde o período anterior à ditadura até o seu auge. Abordando assuntos como o seu exílio e o expondo com uma música de Caetano Veloso ao fundo ou mostrando sua obra cinematográfica, cria-se uma relação entre as diversas artes brasileiras, mostrando como em algum momento histórico todas se unem em oposição ao inimigo em comum: a censura. É ainda enriquecedor que, pela ocupação principal de Gerchman, se trate da história da pintura no país, um assunto que é raramente abordado.


Ao invés de utilizar uma linha narrativa clara e óbvia, que apenas coloca os fatos em ordem, são utilizados diversos recursos audiovisuais que trazem um pouco da atmosfera caótica retratada para o filme. Cartas enviadas por colegas artistas em diversos momentos, filmagens, obras de arte, arquivos de super 8, sons da época e narrações realizadas através de entrevistas que dão o tom à obra, somados a uma montagem cheia de efeitos e dissoluções que auxiliam na psicodelia do documentário.


As entrevistas utilizadas são essenciais para o desenvolvimento do documentário no sentido narrativo, mas também ajudam o espectador a conhecer e se conectar com a figura de Gerchman mesmo quando não o conhecemos bem. Além do retrato artístico, fala-se muito sobre o seu pensamento anticapitalista e sua necessidade de criar obras que se comunicassem com as massas brasileiras, algo que dificilmente vemos dentro das artes plásticas.


Faz-se um trabalho excelente em criar uma biografia do artista criando uma conexão imagética com a sua obra. E, considerando a entrevista final mostrada, se torna impossível ao público não querer conhecê-lo melhor.


Riotsville, EUA

O ano de 1968 nos Estados Unidos foi extremamente importante para os movimentos sociais, principalmente referentes à luta pela igualdade racial, e considerando o histórico recente do país e seus atos de violência policial contra a população negra, não é coincidência que no Oscar de 2021 dois filmes que englobam o assunto tenham recebido indicações (Uma noite em Miami e Os sete de Chicago). Diante desta situação, o documentário Riotsville, EUA se torna ainda mais pungente.


O filme utiliza apenas imagens de arquivo para recontar a mesma história abordada pelos filmes de ficção por um outro viés: o da polícia. A cidade que dá nome ao filme foi uma cidade quase cenográfica criada pela polícia com a intenção de treinar os seus funcionários, com a maioria das imagens mostradas sendo de gravações oficiais. Se essa documentação do que estava sendo realizado tinha a intenção de mostrar como o problema foi resolvido, os dados obtidos com o passar do tempo mostram apenas como este foi um ponto crucial para o problema do racismo estrutural se tornar mais entrelaçado nas instituições estadunidenses.


O formato de utilizar apenas imagens de arquivo é interessante à linguagem do filme por trazer exatamente o absurdo que se encontra na realidade e nas intenções de gravar tais imagens para a posteridade. No entanto, pensando no ritmo do longa-metragem, há certo comprometimento pela necessidade de conectores através das cartelas para criar o contexto histórico necessário para compreender a obra e seu andamento. Por sua vez, o recurso de narração em off que muitas vezes torna a obra mais cansativa é utilizado brilhantemente para criar um contraste mais poético e reflexivo às imagens complexas mostradas, tendo um impacto positivo na obra..


Juntando uma excelente curadoria do conteúdo mostrado com a capacidade de criar uma linha histórica clara, e a utilização do contraponto reflexivo, tornam o filme admirável. Infelizmente, o contexto histórico não ter se modificado tanto nos últimos anos o deixa mais importante do que nunca.

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