Resenha | Y2K: O Bug do Milênio

Título: Y2K – O Bug do Milênio (Estados Unidos, Nova Zelândia, 2024)
Título Original: Y2K
Direção: Kyle Mooney
Roteiro: Kyle Mooney e Evan Winter
Elenco principal: Jaeden Martell, Rachel Zegler, Julian Dennison, Lachlan Watson, Mason Gooding, The Kid Laroi, Eduardo Franco, Miles Robbins e Alicia Silverstone
Duração: 1h31min (91 minutos)
Disponível em: Amazon Prime Video

De certo modo, há algo quase melancólico em perceber que o momento mais inventivo e livre de Y2K: O Bug do Milênio surge apenas depois dos créditos finais, como se o filme todo flertasse com uma ousadia que nunca se concretiza em tela. A proposta, que parte de um olhar fantasioso para a virada do milênio, revela afeto genuíno pelo imaginário pop e pelos arquétipos adolescentes que moldaram a virada de 1999 para 2000, algo expresso em figurinos, criaturas antropomorfizadas e na premissa de “e se” que ecoa o espírito trash de um slasher de lado B.

É nesse espaço de apropriação estética exagerada, digital e quase cômica que o filme parece encontrar sua melhor forma. Há uma clara decisão de abraçar o absurdo, seja na construção de monstros que dialogam com a paranoia do bug do milênio (que foi um problema relacionado à forma como datas eram armazenadas em muitos sistemas de computador antigos) ou no humor que o elenco consegue extrair de diálogos frágeis. Martell, por exemplo, mesmo limitado por falas sofríveis, constrói uma presença crível de quem nunca ousou encarar o desejo; enquanto isso, Zegler, presa ao arquétipo da garota popular, escorrega numa interpretação que soa excessivamente artificial.

No entanto, após a sequência da casa que poderia ser um ponto de virada para radicalizar o olhar do filme, o que se vê é uma hesitação. A narrativa abraça uma condução que lembra um Edgar Wright de orçamento restrito, mas sem conseguir incorporar na mise-en-scène a estética da virada do milênio de forma consequente. Fica a dúvida se a intenção era construir uma sátira ou um pastiche: e, ao não decidir, perde a força de ambos.

Ainda assim, há lampejos de brilho na ideia de reproduzir a lógica algo tola dos filmes adolescentes dos anos 90. É uma sacada que demonstra consciência histórica e humor; o problema é que a execução raramente acompanha a inspiração. Quando chega o momento em que Fred Durst surge cantando “Faith” em meio ao caos, é possível vislumbrar um filme que entende seu lugar como divertimento anárquico e irreverente e que poderia, ali, de fato ser maior do que o conceito. Pena que esse vigor apareça tarde demais. Há graça, há boas ideias, mas falta, sobretudo, a convicção de mergulhar sem medo no próprio absurdo que propõe.

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