A Natureza das Coisas Invisíveis (Brasil e Chile, 2025)
Título Original: A Natureza das Coisas Invisíveis
Direção: Rafaela Camelo
Roteiro: Rafaela Camelo
Elenco principal: Laura Brandão, Aline Marta Maia, Larissa Mauro, Camila Márdila, Serena
Duração: 90 minutos
As relações que surgem entre meninas durante a infância são muito particulares e igualmente intensas. A partir dessa máxima, Rafaela Camelo consegue criar toda uma narrativa que explora as particularidades de personagens femininas profundas e, com muita brasilidade, discutir um pouco sobre a infância e o amadurecimento no nosso país.

No início de suas férias de verão, Glória (Laura Brandão) se vê obrigada a se manter no espaço de trabalho de sua mãe Antônia (Larissa Mauro), que é enfermeira. Uma de suas pacientes, Francisca (Aline Marta Maia), tem uma neta, Sofia (Serena), e as duas garotas acabam se conhecendo ali e criando uma conexão imediata. Com ambas precisando passar muito tempo naquele ambiente até que a avó de Sofia melhore, elas vão se conhecendo mais profundamente, conversando e brincando. E mesmo com a estranheza daquele espaço, percebe-se uma genuína amizade crescendo. Quando Francisca recebe sua alta, todas elas acabam indo para o interior, uma vez que Antônia se oferece para ajudar Simone (Camila Márdila), a mãe de Sofia.
São tantas camadas presentes tanto no texto quanto nas atuações que fazer uma espécie de sinopse se torna uma tarefa difícil. Entre falar sobre o companheirismo entre mulheres, o envelhecimento e o encarar da morte, doação de órgãos e até uma pauta LGBTQIAPN+, o filme poderia se tornar uma grande confusão. Mas, graças ao bom texto e sensibilidade de Camelo, tudo se encontra em um equilíbrio reflexivo que na verdade deixa o público encantado com o universo criado por ela nas telas.
Dentre as muitas qualidades, a atuação de Laura e Serena é um dos elementos mais importantes para o funcionamento do longa. O trabalho com atrizes jovens é sempre um ponto delicado nas produções, mas tanto por conta de um texto fluido quanto de um trabalho muito sincero das duas, nós somos transportados de volta para o universo infantil, cheio de curiosidades e dúvidas. Mesmo não sendo um filme voltado ao público infantil, ele consegue preservar uma ingenuidade no olhar que se torna tocante na medida em que os acontecimentos vão se desenvolvendo.
Isso é acompanhado por uma direção de arte bastante realista alinhada a uma direção de fotografia que tende a criar uma visão mais etérea dos acontecimentos, como se simulando o olhar juvenil perante a vida. Mesmo havendo alguns elementos fantásticos na obra, ela de modo algum se resume a isso, dialogando muito mais com os acontecimentos do mundo real e as relações que vão se construindo do que em relação ao espiritual. Há ainda fortes elementos da cultura popular brasileira colocados em tela de maneira a eternizá-los, o que é uma gentileza do cinema para pequenas tradições que tendem a se perder com o tempo.
Através de uma mistura de diversas gerações de mulheres, Rafaela Camelo consegue emocionar na mesma medida em que nos faz refletir com seu primeiro longa-metragem. E, após alguns curtas premiados, esse parece ser o início de uma longa carreira.