Crítica | 75ª Berlinale | If I Had Legs I’d Kick You

If I Had Legs I’d Kick You (EUA, 2025)

Título Original: If I Had Legs I’d Kick You

Direção: Mary Bronstein

Roteiro: Mary Bronstein

Elenco principal: Rose Byrne, Conan O’Brien, Danielle Macdonald, Delaney Quinn, Mary Bronstein, A$AP Rocky e Christian Slater

Duração: 113 minutos

Existem alguns temas sobre os quais nunca se pararão de fazer filmes sobre, e com certeza a maternidade é um deles. Seja falando de maneira mais otimista, levando para o terror ou simplesmente criando uma crise de ansiedade de duas horas, como é o caso desse filme, como a humanidade vai continuar se reproduzindo, isto sempre dará margem para mais algum tipo de abordagem ao assunto.

O que Mary Bronstein faz é elevar tudo à última potência, colocar algo radical em todas as esferas da vida da personagem principal, e observar sadicamente esta mulher lidando com tudo. Então temos Linda (Rose Byrne), mãe de uma garota com uma doença misteriosa sobre a qual pouco sabemos, mas que entendemos que precisa de cuidados bastante intensos. Se não bastasse a dificuldade com a filha, ela também trabalha como terapeuta, tem um marido um tanto ausente por conta do trabalho, abusa da relação com álcool e de repente: um gigantesco buraco se forma no teto de sua casa e ela precisa se mudar para um novo lugar.

Ainda que exista um elemento quase surreal nessa narrativa, a trama não ousa se afastar muito de um cenário mais realista. Tirando as cenas que envolvem esse misterioso buraco, é justamente a proximidade da vida de uma mãe real que faz com que qualquer pessoa se desespere junto com a mulher. Existe um elemento do gore que também está sempre à espreita, seja em um acidente filmado de maneira muito gráfica ou quando, no auge da insatisfação, vemos todo o tubo saindo do intestino da criança.

Tudo isso é filmado com uma câmera muito próxima de Linda, tanto causando um mal estar por não sabermos a condição de sua filha quanto nos mostrando o protagonismo desse sofrimento. Rose Byrne consegue o papel de sua carreira, tendo uma gama de emoções gigantesca a demonstrar com a narrativa e conseguindo trazer cada uma delas de maneira convincente e igualmente desesperadora.

A cada nova cena, seja um conflito com um de seus pacientes, com seu próprio terapeuta, com o seu marido, com o recepcionista do hotel onde ela acaba ficando, se adiciona mais um pratinho para essa mulher permanecer girando. Tudo isso ainda acontece sob o bipe incessante da sonda de sua filha, enquanto ela ainda tenta fazer a garota ganhar peso para diminuir o suporte necessário à sua vida.

Enervante, o filme também não é completamente alheio aos próprios defeitos da mãe. A falta de olhar para sua filha além da doença, a dificuldade em lidar com seus próprios conflitos internos e sua pouca abertura a pedir ajuda também estão presentes no filme. Ficamos sempre no limite entre entender essa mulher como alguém que desesperadamente precisa de ajuda ou uma pessoa narcisista, que não consegue abrir mão de algumas coisas para tentar reorganizar sua vida. E, entre todos esses sentimentos, ficamos com a fúria materna de que, ao dar a luz, em última instância sempre se está sozinha no mundo. E pior do que isso, sozinha e sendo julgada por todas as pessoas ao seu redor.

Considerando o quanto de sucesso a atuação de Byrne ainda poderá fazer ao longo das premiações e o quanto este assunto é relevante para uma geração que discute bastante o peso do machismo estrutural, é estranho que ele tenha sido inserido tão cedo dentro da temporada de premiações. Ainda assim, sua relevância e sua habilidade técnica de causar calafrios certamente farão com que a obra ainda tenha uma brilhante carreira pela frente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima