Christopher Landon tem construído uma carreira interessante – para dizer o mínimo – no terror. Como um artesão que entende muito bem sua matéria-prima, o diretor trabalha narrativas que mesclam elementos tradicionais do gênero com ideias mirabolantes e tons de comédia, gerando obras que abordam clichês de maneira curiosa sem rejeitá-los, mas quase sempre os repensando. O resultado costuma funcionar bem para a nova geração de fãs do gênero, ao passo que consegue agradar também os mais familiarizados e que tendem a reconhecer quando os filmes reciclam premissas, tropos e, claro, os clichês. E no caso de Drop: Ameaça Anônima (Drop), Landon repensa uma ideia que parece muito limitante e por isso mesmo tão interessante: a sacada de um personagem em um ambiente aberto, mas que se vê na mira de um desconhecido, refém de uma situação impensável tão cotidiana quanto bizarra.

Em Drop somos apresentados à Violet (Meghann Fahy), mãe solteira que passou por um relacionamento abusivo e que vai para um encontro pela primeira vez em muito tempo. Landon acerta ao nos apresentar a protagonista e seu drama pessoal sem muitas firulas, nem buscando vitimizar a personagem através de mil e uma metáforas – um clichê que já vem sendo usado há alguns anos no gênero e parece sempre vir para tentar tornar a obra mais rebuscada do que ela realmente é –, valorizando o aspecto mundano da situação que assistimos. O nervosismo é compreensível, ao passo que o passado turbulento de Violet não apenas serve para criar empatia, mas para acentuar as tensões desde o primeiro minuto.
Tudo que vem a seguir é construído em cima da tensão estabelecida nas cenas iniciais e o que deveria para ser apenas um encontro simples – cujo nervosismo seria, no máximo, o de conhecer uma pessoa nova – se torna um jogo de gato e rato quando Violet passa a ser manipulada por uma pessoa anônima, através de AirDrops – sim, aquelas fotos enviadas no iPhone – e mensagens. Com sua família sob ameaça, Violet precisa decidir o que fazer e entender porque aquilo está acontecendo enquanto tenta descobrir quem é a pessoa por trás de tudo. É uma narrativa que remonta a outras obras do último quarto de século que trazem situações semelhantes, desde o ótimo Por um Fio (de 2002, dirigido por Joel Schumacher) até o mais recente Bagagem de Risco (2024, Jaume Collet-Serra), todos envolvendo telefones e/ou celulares com “arma” do suspense.
O filme de Schumacher trazia o protagonista em uma cabine telefônica enquanto estava sob a mira de um atirador. Já o de Collet-Serra se passa em um aeroporto, com o protagonista sendo manipulado por um terrorista que fala com ele diretor por um fone de ouvido bluetooth. São premissas semelhantes onde a forma de contato entre a vítima e seu algoz refletem a época em que o filme é produzido, sendo Drop mais um exemplar, no qual as mensagens e o compartilhamento direto de imagens – no filme, chamado de DigiDrop em vez de AirDrop – se tornam o método da vez. E Landon, sem se bastar na reformulação da premissa, aproveita para brincar com a direção de arte, usando todo o cenário como uma grande tela imersiva que expõe ao espectador tudo que está se passando no celular de Violet.
É uma forma esperta de utilizar as paredes, janelas e objetos de cena, expondo o patamar da situação sem precisar recorrer a diálogos expositivos, ao mesmo tempo que valoriza o aspecto da tensão ao nos colocar junto da protagonista como seus únicos cúmplices durante todo o jantar. Sabemos sua angústia e sabemos o desenrolar de suas ações enquanto todos os demais permanecem – ou será que apenas parecem? – alheios a tudo. Landon subverte até mesmo um dos poucos alívios cômicos da obra, já que o caricato garçom vivido por Jeffery Self deixa de ser apenas engraçado para se tornar um dos aspectos mais incômodos do filme, com sua presença sempre representando um pico de tensão não apenas para a protagonista, mas para o espectador.
Se em algum ponto a construção do suspense se torna impecável tanto pela montagem com seu ritmo intenso quanto pela imersão promovida pelo bom uso dos cenários, Landon acaba derrapando na hora de embalar seu filme nas sequências finais. Sem o mesmo fôlego, o diretor ainda oferece um ou outro momento interessante quando precisa recorrer a uma montagem voltada para a criação de cenas de ação, mas perde a tensão pelo caminho, principalmente considerando que uma das principais reviravoltas da obra se torna completamente previsível muito antes de sua revelação, fazendo a curva dramática do clímax um tanto cansativa. Não invalida todos os acertos no decorrer de Drop, claro, mas pontua uma filmografia bastante inspirada com uma obra um pouco menos interessante, ainda que com um ou dois momentos verdadeiramente marcantes.