Crítica | Ritas

Ritas (Brasil, 2025)

Título Original: Ritas
Direção: Oswaldo Santana e Karen Harley
Roteiro: Fernando Fraiha, Karen Harley e Oswaldo Santana
Elenco principal: Rita Lee, Roberto de Carvalho, Arnaldo Baptista, Maria Bethânia, Hebe Camargo, Sérgio Dias, Marília Gabriela e Gilberto Gil
Duração: 83 minutos
Distribuição brasileira: Paris Filmes

Rita Lee Jones certamente teve um impacto cultural tão grande no povo brasileiro que é até difícil medi-lo. Da jovem que canta rock’n’roll em plenos anos 1960, passando pela prisão grávida durante a ditadura militar e chegando ao final de vida como escritora de suas próprias memórias, ela pode ser considerado um exemplo de mulher que viveu de acordo com suas próprias regras e em seu próprio ritmo – que de vez em quando era inclusive muito acelerado para o seu próprio tempo.

Assim como aconteceu recentemente com a cinebiografia de Ney Matogrosso, Homem com H (2015), é difícil pensar em como resumir um artista tão grandioso em telas e por um tempo limitado. Aqui, pelo seu caráter documental, a linguagem é bastante diferente justamente por seu longo período como pessoa pública, com a possibilidade de utilização de imagens que ilustram boas partes de suas memórias. No entanto, assim como feito em sua autobiografia Rita Lee: Uma Autobiografia, a artista parece tomar rédeas de sua narrativa mesmo depois de sua partida, dada a sua onipresença em cortes que iniciam a conversa sobre diversos períodos e capítulos de sua vida.

E permitir que o filme crie esse fluxo a partir das falas de Rita Lee é um dos grandes acertos da direção. Além da sensação de um controle criativo, isso traz a sensação de um álbum de memória que estamos abrindo após a sua partida, reforçado até mesmo pelos belíssimos momentos em que ela fala sobre a morte, sabendo de sua idade e problemas de saúde. Por serem também os editores, Oswaldo Santana e Karen Harley merecem todos os aplausos pelo ritmo criado através do que deve ter sido uma extensa pesquisa de material, com a seleção de momentos significativos e que conseguem acompanhar a loucura interna da carreira da cantora. Ao mesmo tempo em que conseguem deixar claros problemas de sua vida, como a grande luta contra a dependência química, evitando o clima chapa branca encontrado em diversas obras, os equilibram com uma visão multifacetada da multiartista que mantém o respeito à sua figura.

Também demonstrando essa mistura de controle sobre a narrativa e admiração pela retratada, eles conseguem manter a montagem moderna e pouco careta, passando de um assunto para o outro através de uma linha delicada de raciocínio que se fortalece com as imagens apresentadas. Por exemplo, é bem possível que a maior parte dos espectadores saiba de sua paixão pela cidade de São Paulo, mas ver Caetano Veloso cantando diretamente para ela em um show dá a proporção ao que poderia ser mostrado com uma gigante montagem de momentos em que ela fala sobre essa paixão. Todos podem imaginar que ela seria uma idosa ainda moderna, mas ela pedindo para a neta mostrar um “proibidão” nos mostra essa faceta de modo muito mais certeiro.

Enfim, temos essa obra que consegue usar as vantagens da linguagem documental para nos guiar por esse planeta que foi Rita Lee e nos emocionar ao lembrar de todo o seu legado. Com certeza a nossa Santa Rita está ao lado de David Bowie e R2-D2 iluminando as novas gerações culturais.

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