Crítica | Missão: Impossível – O Acerto Final

Missão: Impossível – O Acerto Final (EUA, 2025)

Título Original: Mission: Impossible – The Final Reckoning
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Christopher McQuarrie e Erik Jendresen
Elenco principal: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Henry Czerny, Angela Bassett, Esai Morales e Pom Klementieff
Duração: 169 minutos
Distribuição brasileira: Paramount Pictures

Após 29 anos e 8 filmes, uma das franquias mais longevas e marcantes de Hollywood chega ao seu suposto fim. Duas dúvidas ficam ao final da sessão: O Acerto Final é o final mesmo? E é um acerto? (Perdão, eu não resisti). Apesar de mirar em ser o filme mais grandioso da franquia, o último capítulo acaba não sendo nem o melhor, nem o pior do grupo. 

Os problemas começam no filme anterior, já que este oitavo filme é, na verdade, o “7 Parte II”. Como a Parte I já indicava, a narrativa proposta caberia facilmente em um filme só e a segunda metade apenas confirma essa questão. As cenas de ação dos dois filmes são longuíssimas (o que não é um problema, pois são muito bem feitas e, eu diria, o ponto alto da duologia) e preenchem um espaço que a história não consegue preencher por si só, o que leva a dois filmes que têm uma narrativa enfraquecida e claramente menos interessante que os seus criadores gostariam que fosse. Não sabemos o que teria sido deste roteiro caso fizessem um filme só, mas acredito que a história ganharia força e não haveria uma discrepância tão marcante entre as cenas de ação e as cenas de desenvolvimento narrativo (e vale apontar que a própria separação dessas duas funções de cena de forma tão explícita pode ser entendida como um problema de roteiro). Os comentários sobre os problemas de ritmo do 7º filme, causados pela variação entre as cenas mais intensas e as de diálogos expositivos nem sempre bem escritos, continuam valendo para o 8º.

Como na maior parte dos filmes de ação, ele abre com uma cena tensa que leva aos créditos de abertura (aqui um tanto acelerados). Então, somos mergulhados em duas horas de pouca ação e muita falação sobre o quão grandioso é o problema que as personagens estão enfrentando – e acredite: é muito grandioso, é o problema mais grandioso de todos, nunca houve nada tão grandioso quanto o problema deste filme! Ou pelo menos é isso que todos os diálogos querem nos fazer acreditar. O que não seria um problema se tudo não fosse tão excessivamente grandioso que, caso a equipe de Ethan Hunt (Tom Cruise) falhe, a humanidade encontrará o seu fim em um mundo sem internet e com bombas atômicas sendo jogadas para lá e para cá. Ou seja, o filme (e, até onde sabemos, a franquia) só tem dois finais possíveis: o sucesso da missão ou o apocalipse. Como sabemos que Hollywood jamais permitiria que uma franquia tão comercial termine em uma grande bad trip, nos resta sentar, esperar todo mundo parar de falar e a ação começar para nos entreter enquanto assistimos a todo o processo que levará a equipe de Hunt ao sucesso. 

A narrativa, que continua a luta pelo controle da IA mais inteligente do mundo apresentada no filme anterior, desperdiça uma boa oportunidade de debater questões éticas relacionadas ao tema e usa muito de seu tempo em longos debates sobre qual seria a melhor forma de agir frente a essa ameaça. Junto a isso, o longa faz uso de um recurso que, apesar de clichê, é muito bem utilizado: a nostalgia dos filmes anteriores, particularmente dos mais antigos. Em diversos momentos vemos inserções de cenas destes filmes ou menções aos seus acontecimentos, às vezes de forma direta e outras vezes indireta, como quando a data 22 de maio de 1996 é citada como parte importante da narrativa e a escolha do dia passa batido para a maior parte do público – mas os fãs mais fervorosos sabem que foi a data de lançamento do primeiro filme. Há diversos acenos como este para os fãs que aguardaram quase 30 anos por este momento: o fim de tudo, a última missão. Fica claro que finalmente chegamos lá. 

O terço final do filme tem duas sequências de ação primorosas, uma envolvendo um submarino e outra um avião. A direção, a fotografia e a montagem se unem para criar um visual não apenas lindo, mas que nos permite entender com clareza o que está acontecendo na tela, uma virtude que muitos dos filmes de ação dos últimos anos (particularmente depois da explosão da franquia John Wick) vêm entendendo e se apropriando, mas nem todos cumprem a missão com o mesmo sucesso de Hunt. São duas cenas tensas e, em uma delas, mesmo com a certeza de que Ethan realizará a sua parte da missão e salvará a humanidade mais uma vez, há uma dúvida sobre o destino do personagem.

E assim chegamos na última encruzilhada do filme (a partir daqui, o texto contém spoilers): matar o seu icônico protagonista e encerrar de vez a franquia ou permitir que ele siga vivo, mesmo depois de tantos filmes dizendo que não há aposentaria em seu ramo? Ao escolher mantê-lo vivo, o roteiro se acovarda e entrega uma cena final não muito diferente das dos outros filmes da franquia. Ou seja: a possibilidade de um próximo filme chegar em breve é tão real quanto sempre foi. Tom Cruise segue em forma, apesar da idade e o dinheiro está entrando. Por que não? Isso, só o futuro dirá. O ponto é que depois de tantos indícios que este final seria o final definitivo, acaba sendo um pouco frustrante perceber que este capítulo foi só mais um capítulo na saga de Ethan Hunt e não o grande encerramento de sua história que tanto nos foi (e continua sendo durante a duração dessa narrativa) prometido. 

Acho difícil sair do cinema sem uma sensação de que algo não foi entregue. Neste sentido, eu senti que as 3 horas de filme valeram a pena? Diria que sim, pois, apesar de tudo, ainda é um filme que cumpre com sua função principal: nos entreter e apresentar sequências de ação como não vemos em nenhum outro lugar. Como já disse, não é um filme de grande destaque, mas consegue deixar sua marca de grandiosidade no gênero.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima