Crítica | 14º Olhar de Cinema | A Árvore da Autenticidade

A Árvore da Autenticidade (Bélgica e Congo, 2025)

Título Original: L’arbre de l’authenticité
Direção: Sammy Baloji
Roteiro: Eileen Meiresonne e David Van Reybrouck
Elenco Principal: Edson Anibal e Laszlo Umbreit
Duração: 89 minutos

Aqui temos mais uma obra que é difícil não comparar com um filme anterior, Dahomey (2024), vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim e que também foi exibido pelo Olhar de Cinema em sua edição anterior. E essa comparação não acontece porque ambos filmes têm coprodução entre um país africano e um europeu, nem mesmo por terem coincidentemente vozes em off de objetos inanimados narrando parte da história. O que os aproxima é a sua atitude anti colonial, aproveitando esses recursos para criar uma narrativa subversiva quanto aos valores da exploração europeia da África.

No primeiro e segundo atos, temos as informações sobre a floresta do Congo que foi brutalmente explorada pelos colonizadores europeus, em um primeiro retratando a coleta de dados no início dessa colonização e depois tratando das consequências dessa exploração. O primeiro momento acontece em 1910, e o segundo em 1950 – mas é o seu final, com a revelação do narrador no terceiro ato, que realmente faz com que toda a obra funcione como este ensaio anti colonial.

O que dita os primeiros momentos da obra é o seu ritmo de montagem. Através de leituras de trechos e falas sobre como ocorreu a exploração belga do Congo, temos uma noção do tipo de atividade predatória que se realizou tanto em relação às florestas quanto a outros minerais, como cobre e até mesmo urânio. Fazendo um diálogo entre as informações sobre os dois cientistas e o contrapondo com essas imagens do presente e do passado, ainda que por vezes o filme parece não avançar por conta das repetições, consegue-se criar uma imagem mental bastante clara sobre tal atividade científica. Infelizmente, para países da América Latina, colonizados tanto pela Europa quanto depois pelos Estados Unidos, essa é uma mensagem muito simples de entender – sendo mais complexa em recepção no próprio solo europeu.

Algo que chama atenção na obra é a combinação entre fotografia e som. Existe uma quantidade razoável de imagens de arquivo, mas sua contraposição com as imagens atuais é que cria a noção de continuidade necessária para que a obra funcione como um todo. A isso é somado todo um projeto de captação e ambientação dos sons dos processos mostrados e também da floresta em questão, fazendo com que a imersão seja ainda maior. Esse elemento realmente nos transporta mentalmente para o local, e ajuda a criar o clima necessário para o funcionamento do terceiro ato.

Ainda que a mensagem final que a obra deseja passar seja um tanto óbvia, sua forma justifica completamente sua boa recepção pelo público.

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