The Seasons (Portugal, França, Espanha, Áustria, 2025)
Título Original: As Estações
Direção: Maureen Fazendeiro
Roteiro: Maureen Fazendeiro
Duração: 1h 22 min (82 min)
Pensando de forma comparativa em relação ao primeiro longa-metragem assistido na cobertura de Locarno, With Hassan in Gaza, percebem-se muitas semelhanças entre as duas obras. Ambas partem de um estudo sobre um local em um determinado tempo, sem deixar claro exatamente qual é esse período retratado. Mas, se no caso do filme sobre Gaza, a montagem parece atrapalhar o andamento do filme para os seus espectadores, aqui é justamente ela que traz vida à narrativa.

Existe um olhar bastante poético para a forma que a obra será apresentada ao público. Desde o primeiro momento a preocupação com o ambiente se faz muito presente, com uma paisagem que imediatamente transporta quem assiste ao Alentejo, com seus sons de insetos sendo complementados por uma fotografia com bastante brilho e muitos tons de verde. Este espaço físico é colocado em primeiro plano e fica muito claro que, mesmo com um olhar mais observacional, o filme será focado em uma investigação sobre sua história e o seu presente.
Cria-se uma mistura de referências que tratam passado e presente em uma mesma narrativa, causando uma sensação de que aquele é um espaço que ficou cristalizado no tempo, diferentemente da sensação de continuidade causada pela outra obra. Aqui, apesar do passar das estações e dos anos, os elementos remetem ao passado: a arqueologia, o grupo de idosos conversando sobre a resistência à ditadura de Salazar, os animais que parecem vagar nos campos verdes há uma centena de anos. Considerando a atual situação da região, com declínio cada vez maior da população jovem, acabamos presenciando uma espécie de cápsula do tempo registrada em audiovisual. Essa captura da memória é preciosa, trazendo um modo de viver muitas vezes ignorado em troca de uma vida mais moderna e acelerada.
Alguns detalhes como a câmera mais livre, permitindo movimentos circulares e que criam quase um movimento de 360º em alguns momentos, ajudam na criação dessa energia cíclica que a obra apresenta. A montagem entra como protagonista quando mistura essas imagens imersivas com um detalhamento sobre esses personagens anônimos e também a inserção das cartas trocadas entre arqueólogos dos anos 1940, bem quando o nazi-fascismo estava em seu ápice no continente europeu. Tudo retoma essa ideia de preservação e de registro, mas como se este fosse apresentado na forma de um poema audiovisual.
Assim, a obra conquista os espectadores através do encanto, trazendo interesse para essas questões de preservação da memória de maneira suave. A forma, mesmo que mais experimental, encontra equilíbrio com o conteúdo, gerando um filme que segue com o espectador muito tempo depois de acabar.